27 janeiro, 2008

Observat�rio B�blico: Livros para download em Servicios Koinonia

Observat�rio B�blico: Livros para download em Servicios Koinonia

18 novembro, 2007

UM FUNDAMENTALISTA FALA E UM HETERODOXO RESPONDE...

Um fundamentalista fala e um heterodoxo responde...
Eis um artigo de um militante fundamentalista extraído do site da SEPAL. Logo após eis uma resposta dada por mim para o mesmo. Pena que ele me ignorou. Eis então os textos:
Verdade e Pluralidade no Novo Testamento
Por Augustus Nicodemus Lopes
Com a chegada da nova hermenêutica na academia cristã, tornou-se corrente entre os estudiosos que não existe uma única leitura válida de qualquer passagem da Bíblia, mas muitas. Em decorrência, é dito que também não se pode fazer afirmações teológicas que sejam consideradas como verdadeiras e válidas, visto que toda declaração teológica é construída a partir de um método hermenêutico condicionado ao tempo e à cultura. Assim, seriam as elaborações doutrinárias tradicionais da Igreja Cristã. É necessário que se aceite a pluralidade das expressões teológicas sem se pretender impor um sistema teológico sobre os demais. A conclusão do argumento é que não se pode falar em verdade teológica, mas em pluralidade teológica. E a postura mais adequada a esta visão é a do inclusivismo eclético, que propõe a plena convivência tolerante entre as mais variadas correntes teológicas cristãs e evangélicas, ainda que se contradigam abertamente.
Creio que este assunto deve ser abordado a partir de nossas raízes apostólicas. Talvez se perguntarmos como os apóstolos e demais autores do Novo Testamento lidaram, em sua época, com interpretações divergentes da pessoa e da obra de Jesus Cristo encontremos uma postura para a verdade e a pluralidade que seja realmente cristã.
Uma leitura, ainda que superficial, dos escritos do Novo Testamento traz várias evidências de que seus autores criam que Deus havia revelado um corpo doutrinário definido o bastante para poder caracterizar como falsos e humanos ensinamentos que fossem divergentes. Mencionamos algumas delas.
1. O Surgimento dos Escritos do Novo Testamento
Boa parte da literatura neo-testamentária foi produzida em reação à invasão de falsos ensinamentos nas primeiras comunidades cristãs. Em resposta à propagação do erro, os apóstolos e seus associados produziram material que se destinava a expô-lo, refutá-lo e a instruir e fortalecer os crentes na verdade do Evangelho. O Evangelho de João, por exemplo, cujo propósito declarado é o de confirmar os leitores na fé em Jesus Cristo (João 20.30-31), deve ter sido provocado por alguma situação de cunho doutrinário que exigia tal confirmação. Várias cartas de Paulo também foram escritas em resposta ao desenvolvimento do erro doutrinário em comunidades por ele fundadas. A carta aos Gálatas foi escrita para combater um falso ensino divulgado por oponentes seus sobre as condições pelas quais os crentes gentios poderiam ser aceitos na Igreja. A carta aos Colossenses foi escrita para combater um movimento que havia se infiltrado na igreja de Colossos, que veio a ficar conhecido como a heresia de Colossos. A segunda carta de Paulo aos Tessalonicenses foi escrita, entre outras coisas, para corrigir um falso conceito escatológico relacionado com a parousia. Além de outros propósitos gerais, Paulo escreveu 1 Timóteo para instruir Timóteo quanto a uma heresia que havia se instalado na igreja de Éfeso, que provavelmente é o mesmo erro combatido em 2 Timóteo e Tito.
É evidente que Paulo não considerava a perspectiva dos judaizantes da Galácia, quanto à salvação pelas obras da lei, como sendo uma interpretação alternativa e válida. Também não considerava a teologia dos mestres de Colossos como um enriquecimento para a doutrina cristã, apresentando um outro ponto de vista válido sobre Cristo e sobre a vida cristã. Igualmente, não parece considerar que as doutrinas que estavam sendo disseminadas em Éfeso e Creta por falsos mestres eram maneiras diferentes, válidas e complementares de se ver o Cristianismo. Na realidade, o apóstolo considera estas formas diferentes de Cristianismo como falsas, perigosas e contrárias à verdade do Evangelho.
2. As Denúncias contra Falsos Mestres e Profetas
Não podemos negar que os escritores do Novo Testamento demonstram tolerância para com os crentes que por algum motivo abraçaram desvios práticos decorrentes de erros teológicos. O melhor exemplo disto é a primeira carta de Paulo aos Coríntios. Ao abordar as irregularidades daquela igreja, o apóstolo trata os seus membros de forma bastante tolerante, considerando-os como irmãos em Cristo e como igreja de Deus, muito embora tenha entregado um incestuoso a Satanás e declarado dignos de castigo os que participassem erroneamente da Ceia (1 Coríntios 11). Em oposição à tolerância para com os novos convertidos e desavisados, os escritores do Novo Testamento demonstram uma profunda resistência ao erro teológico divulgado por mestres. Não podiam ficar silenciosos diante do crescimento dos mesmos nas comunidades cristãs. Assim, tomaram da pena para escrever, denunciando, alertando e encorajando. O tom dos autores bíblicos quanto tratam de desvios do corpo doutrinário recebido é de urgência, preocupação e de alerta. Não há concessão, tolerância ou complacência. A diferença entre as duas atitudes é que, quando se tratava de erros práticos cometidos por crentes, os escritores do Novo Testamento adotam uma abordagem tolerante e pastoral. Mas, quando se tratava de ensinamentos de mestres que se afastavam do padrão doutrinário recebido, a atitude passava a ser de inflexibilidade. Os apóstolos tratavam com paciência desvios práticos no culto e mau uso dos dons espirituais (o caso de Corinto), mas rejeitavam veementemente o que determinados mestres ensinavam, como a salvação pelas obras da Lei (Gálatas), negação da ressurreição dos mortos (1 Coríntios 15), ensinamentos estranhos sobre a pessoa de Cristo (Colossenses e 1 João), antinomianismo ou barateamento da graça (2 Pedro e Judas).
3. As Exortações para que a Sã Doutrina Seja Preservada
O apóstolo Paulo faz referência à "sã doutrina" nas Pastorais, uma clara referência a este corpo doutrinário recebido pela Igreja, o qual funciona como paradigma do trabalho pastoral e das questões doutrinárias, em oposição aos falsos ensinamentos (1Timóteo 1.10; 2 Timóteo 4.3; Tito 2.1; cf. "boa doutrina", 1 Timóteo 4.6; "sãs palavras", 1 Timóteo 6.3; 2 Timóteo 1.13). O emprego do termo doutrina, portanto, aponta para a consciência dos autores do Novo Testamento de que havia um conjunto de verdades reveladas que formavam um conjunto definido, que teve seu início no ministério de Cristo e que foi confiado à Igreja mediante os apóstolos. Doutrina é verdade transmitida de forma autoritativa e recebida em confiança.
Os escritores do Novo Testamento também percebiam que a Igreja não somente era a depositária da revelação de Deus, a sã doutrina, mas também a responsável por preservá-la. Paulo considera a Igreja como sendo "coluna e baluarte da verdade" (1 Timóteo 3.15). A tarefa de guardar a verdade era dos cristãos em geral, como Judas escreve "Amados, quando empregava toda a diligência em escrever-vos acerca da nossa comum salvação, foi que me senti obrigado a corresponder-me convosco, exortando-vos a batalhardes, diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos" (Judas 3). Paulo determina aos crentes de Filipos que "preservem" a palavra da vida, uma referência ao ensinamento que lhes havia transmitido (Filipenses 2.16). Porém, era primeiramente um encargo dos pastores e presbíteros fiéis, cuja responsabilidade seria de defender a verdade e combater o erro.
Assim, além de denunciar os falsos mestres e suas idéias, os escritores do Novo Testamento também ensinam que os cristãos – especialmente os pastores e presbíteros – deveriam zelar e preservar o conjunto de verdades reveladas que eles haviam recebido através dos apóstolos, evitando que as mesmas fossem corrompidas pelos erros velhos e novos. Muito embora usado de forma pejorativa em alguns círculos, o termo "guardiões da sã doutrina" cabe perfeitamente neste contexto para definir aquilo que os escritores inspirados desejavam que os cristãos fossem.
4. O Conceito de Apostasia
Uma outra evidência de que os autores do Novo Testamento trabalhavam com o conceito de um corpo doutrinário definido é a consciência que demonstram da realidade da apostasia. Apostatar, no Novo Testamento, é afastar-se de Deus como resultado de uma mudança de pensamento, e levantar-se em rebelião aberta contra Ele e contra a sua verdade revelada, com o objetivo de pervertê-la. Os escritores do Novo Testamento continuamente advertem os crentes quanto aos perigos da apostasia. A presença do conceito de apostasia nos seus escritos por si só depõe eloqüentemente a favor da idéia que os escritores do Novo Testamento operavam a partir da convicção de que havia verdades fixas, desviando-se das quais as pessoas colocavam em perigo sua própria alma.
Em suas cartas, Paulo freqüentemente trata do assunto. Aos Tessalonicenses, por exemplo, Paulo relembra o surgimento da apostasia, substanciada na aparição do anticristo, precedendo o fim (2 Tessalonicenses 2.3). O apóstolo descreve este evento futuro em termos de um desvio e rebelião contra a verdade. Note as palavras e expressões destacadas: "Ora, o aparecimento do iníquo é segundo a eficácia de Satanás, com todo poder, e sinais, e prodígios da mentira, e com todo engano de injustiça aos que perecem, porque não acolheram o amor da verdade para serem salvos. É por este motivo, pois, que Deus lhes manda a operação do erro, para darem crédito à mentira" (2 Tessalonicenses 2.9-11).
O conceito de apostasia ocorre também em outros autores. A carta aos Hebreus parece ter sido escrita exatamente para impedir a apostasia de seus destinatários. Tiago também menciona cristãos que se desviaram da verdade e que correm o risco da morte da alma (Tiago 5.19). João faz uma distinção entre o pecado não para a morte e o pecado para a morte (1 João 5.16-17), que consistia no abandono da doutrina apostólica para seguir o ensinamento dos mestres gnósticos que estavam se infiltrando nas comunidades da Ásia (1 João 2.18-26; 4.1-6).
Os exemplos acima demonstram que os autores bíblicos trabalhavam a partir de um sistema doutrinário referencial, que permitia advertir contra a apostasia. Por definição, só pode haver apostasia se existir um referencial doutrinário, pelo qual se possa aferir se há desvio ou rebelião. Se não havia um sistema doutrinário revelado, definido e autoritativo nos tempos da Igreja apostólica, também não poderia haver desvios, deserções, rebeliões. Tais casos seriam interpretados somente como variações e complementações do ensinamento de Jesus e dos apóstolos.
5. A interpretação das Escrituras do Antigo Testamento
Mencionaremos brevemente ainda um fator, que é o uso que os escritores do Novo Testamento fazem das Escrituras do Antigo Testamento. Eles consideravam o Antigo Testamento como sendo a inspirada Palavra de Deus e usam-na abundantemente em seus escritos, via de regra, com o propósito de fundamentar os seus ensinamentos.
Dois pontos são relevantes aqui. O primeiro deles é que os escritores do Novo Testamento consideravam a sua interpretação do Antigo Testamento correta e a dos judeus errada. Isto teve início com o próprio Jesus, que corrigiu a interpretação tradicional da Lei feita pelos fariseus (Mateus 5.21-22, 27-28, 33-34, 38-39, 43-44), denunciou a interpretação deles como sendo uma distorção da Palavra de Deus (Mateus 15.1-9), acusou-os de desconhecer as Escrituras (Mateus 15.29) e de torcer o sentido delas em benefício próprio (Mateus 23.4, 16-22). O segundo ponto é que havia vários outros grupos e indivíduos interpretando o Antigo Testamento na época em que o Novo Testamento foi formado. Os essênios tinham elaborado sua própria interpretação da Lei e dos Profetas e escrito diversos comentários sobre livros do Antigo Testamento. Havia outros judeus que interpretavam o Antigo Testamento a partir de suas convicções apocalípticas, que incluíam pessimismo quanto ao mundo presente, o irromper súbito, catastrófico e inesperado do Reino de Deus. Eles mesmos produziram literatura que era conhecida na época em que o Novo Testamento foi escrito, como por exemplo Enoque, Assunção de Moisés, 4 Esdras. Os rabinos também tinham seu próprio sistema interpretativo substanciado na tradição oral, que remontava ao tempo de Esdras. Filo de Alexandria, anos antes dos apóstolos, havia escrito comentários sobre o Antigo Testamento, especialmente sobre Gênesis, usando um sistema de interpretação definitivamente alegórico e comprometido com o platonismo. Todas estas interpretações eram conhecidas e correntes no mundo em que os primeiros cristãos viveram. Entretanto, se distanciaram de todas elas, por considerarem-nas como interpretações ilegítimas das Escrituras, visto que não partiam da chave hermenêutica que destrancava o sentido delas, que era Cristo.
Concluindo, transparece das evidências acima que não faz sentido dizer que os apóstolos e demais autores do Novo Testamento eram pluralistas ou inclusivistas, mesmo no sentido mais brando e suave dos termos. Eles não entendiam que as teologias dos judaizantes, gnósticos, nicolaitas, espirituais, latoeiros, etc., eram interpretações complementares e válidas da pessoa e da obra de Cristo. Combateram-nas veementemente. Tal abordagem ao conceito de verdade e pluralidade deveria servir de modelo para uma postura cristã moderna quanto à diversidade teológica que grassa em nossa academia.
Participe na nossa
enquete da semana!
Augustus Nicodemus Lopes é pastor na Igreja Presbiteriana de Santo Amaro. É bacharel em teologia pelo Seminário Presbiteriano do Norte (Recife), mestre em Novo Testamento pela Universidade Reformada de Potchefstroom (África do Sul) e doutor em Interpretação Bíblica pelo Westminster Theological Seminary (EUA), com estudos no Seminário Reformado de Kampen (Holanda). É autor de vários livros, entre eles O Que Você Precisa Saber Sobre Batalha Espiritual, O Culto Espíritual, A Bíblia e Sua Familia e A Bíblia e Seus Intérpretes, todos pela CEP. Casado com Minka, tem quatro filhos – Hendrika, Samuel, David e Anna.
FONTE:
http://www.lideranca.org/cgi-bin/mods/apage/apage.cgi?f=verdadeplural.html
Pxto30/07/2006

Inclua seu comentário sobre A pluralidade de interpretações teológicas no meio evangélico protestante deve ser:
UMA DESLEITURA da leitura augustina acerca das hermenêuticas alternativas.
ProfºPeixoto

P'rá começar, gostaria de tentar fazer UMA OUTRA ou DIFERENTE LEITURA da leitura "AUGUSTINA" do tema proposto no texto do próprio doutor, mestre e pr. Agustus Nicodemos Lopes.

1º]Por que este assunto tem que ser abordado, exclusivamente, a partir de nossas raízes [ditas] apostólicas? Isto é, a partir dos cristãos que se intitulavam como "ortodoxos"? O doutor, ao fazer isto, ao agir assim, já deixa clara a sua posição. Ao partir do que se constituiu como "ortodoxia", ele tende somente a fazer uma única "leitura" possível: a ortodoxa. Nada de pluralidade a vista!

2º] Sendo ortodoxa sua leitura, o que esperar de diferente em suas conclusões? Nada! Só a condenação da pluralidade de interpretações teológicas no meio evangélico protestante quando esta não se enquadra no que o senhor tipifica, engenhocamente, de "pluralidade... REALMENTE cristã. Ora, caríssimo, que pluralidade é esta que só suporta diferenças na forma, nunca no conteúdo? Será que vc. acha todos os seus leitores são bobos? Não percebe isto? E mais: como é preciso, a priori, que se parta de uma definição do que é cristão para poder classificar,como tal, uma ou várias leituras, Vc.deixa claro qual é o seu ponto de partida ou qual a leitura instituída como "correta" e "verdadeira": é a dos apóstolos e demais autores do novo testamento. Não custa nada te lembrar que não há consenso, nem certeza absoluta, quanto a autoria dos texto que foram selecionados e classificado como "cristãos". Acreditamos nas ditas autorias por uma questão política de defender uma forma de Fé que abraçamos construída, exclusivamente, em torno de textos também escolhidos politicamente.Vc. que é Doutor pode até não querer concordar com isto, mas, certamente já estudou isto no Recife no mínimo e sabe como a política funciona nestas situações. Queres um exemplo? Tu se lembras de Rubem Alves, que foi pastor presbiteriano? Considerado por sua denominação um herege?Qual foi o seu crime mesmo? O de ler os evangelhos ortodoxos de forma não ortodoxa e outras coisitas mais,...,Basta ler: "Protestantismo e Repressão" e "Dogmatismo e tolerância".

3º] "...Deus havia revelado um corpo doutrinário definido,...”Putz grila meu caro doutor!!!Com uma dessa, coitado d'Eu e de quem mais ousar duvidar... Tudo bem, eu corro o risco assim mesmo.
Para quem era mesmo "definido" este corpo doutrinário? Quem é que determina isto mesmo ou determinou? Isto vc. Responde com uma certeza absoluta: todos os autores do novo testamento.De onde vem tamanha certeza, uma vez que sabemos que, antes da seleção feita e instituída como "revelada" e "definitiva", havia inúmeros textos circulando pelas comunidades cristãs de autoria diversas atribuídas, na maioria dos casos; textos que se cruzavam; textos que não só se repeliam, mas também se integravam acerca da pessoa de Jesus e seus ensinamentos? A seleção foi feita por Pedro? Paulo? André? João? Ela foi feita no 1º século? Sei que vc. Sabe que acreditar nisso é apenas uma questão de escolha, não de verdade revelada.

4º]Se os textos selecionados fosse o que ficaram de fora do "cânon"; Isto é, se a "ortodoxia" que prevaleceu fosse a dos cristãos que eram tachados pelos auto-intitulado de "ortodoxos" como "apóstatas" e "hereges", qual poderia ser a minha e a sua posição agora? Provavelmente opostas! O que eu quero dize é o seguinte: a doutrina que foi instituída foi a do grupo cristão vencedor das disputas de interpretações concorrentes que existiam na ocasião da institucionalização oficial de uma exclusiva forma de pensar e ser cristão e de uma forma de ser Igreja. Foi uma doutrina e uma forma de ser que legitimava e que até hoje legitimam posturas como a sua e que condenam posturas como as minhas. Uma vez acontecendo assim, quem perdeu, herege passou a ser.

5º]Ser contra ou a favor da pluralidade de interpretações teológicas no meio evangélico protestante é mais uma questão política, uma questão que envolve relações de poder entre os cristãos dentro de uma Igreja local e entre os diversos grupos cristãos que concorrem entre si na sociedade que uma questão religiosa, teológica como doutores da Igreja como o senhor costumam colocar. Por traz desse discurso "bíblico", "revelado", "inspirado", "verdadeiro" e "ortodoxo", há inúmeros interesses políticos de quem os pronunciam; que dizem respeitos ao exercício do poder ou ao desejo dele no interior das Igrejas. Não há discursos inocentemente puros e teológicos como defende o amado doutor no seu texto.

6º] Tô com sono e quero domir, por isso, vou terminar minha exposição. Mas pretendo prosseguir com minhas considerações a respeito deste tema. Por enquanto, termino dizendo que o meu discurso também não é inocente. Eu tenho meus interesses também; só que não os mesmo do ilustríssimo doutor e do grupo que ele representa. o meu cristianismo não é algo pronto e acabado ou fechado em si mesmo: está em eterna construção. Por isso estou aberto ao diálogo verdadeiro: aquele que os envolvidos podem ser transformados por ele. Quem quiser responder em particular escreva para:
Peixoto40@gmail.com

28 agosto, 2006

PEIXOTO É BODE...

PEIXOTO É BODE...
De: Wagner Antonio de Araújo
Para: Professor Peixoto; forum-batistas@yahoogrupos.com.br
Enviado: sábado, 16 de março de 2002 13:52
Assunto: PEIXOTO É BODE, NÃO OVELHA - ALERTA!

O Professor Peixoto declara-se um BODE e que não é uma OVELHA. Para mim isso diz tudo. Um bode não compreende a alma de uma ovelha.

Diante do seu exposto, Prof. Peixoto, já concluí que o seu papel aqui é de advogado do Diabo, não comunga a minha fé e está aqui para ridicularizar-nos.

Por que escreveu-me em PVT? Para ninguém conhecer o teor de suas palavras? Entrei na lista para debater com pessoas que não se escondem por trás de uma máscara de sabedoria. Eu sou eu mesmo, professor peixoto.

Não perdi o debate. Só não estou aqui para tentar ninguém, nem testar a fé de ninguém, como o senhor, explicitamente um insolente.

O senhor não é um satanista, é? Conheço os satanistas de longa data e o senhor tem palavras muito similares.

Daqui para frente não postarei nada à sua pessoa, porque me recuso a debater a fé com alguém que sequer comunga da mesma.

Pr. Wagner Antonio de Araújo.

OBS: AOS QUE FOREM ME INTERPELAR, POR FAVOR, PRIMEIRO LEIAM AS PALAVRAS DO PROFESSOR, LOGO ABAIXO, E, DEPOIS, RESPEITEM A MINHA OPINIÃO. TENHO DIREITO A ELA E TAMBÉM DE FAZER AS MINHAS CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DOS ESCRITOS DO PROFESSOR PEIXOTO.

FINDO MINHAS PALAVRAS.

De: Professor Peixoto
para: bnovas@uol.com.br
Enviado: Sexta feira, 15, 2002 11:58 PM
Assunto: a vida batista me fez assim...
Caro pastor, a prendi dentro da CBPE que nenhuma insolência e nenhuma oposição as cristalizadas posições dominantes do mundo batista é capaz de derrubá-las. Por isso, o que nos resta é a ironia. Isto é discurso de quem já admite que é voto vencido, portanto, compreendas as ironias que saem da minha mão que digita agora, porque ela não ameaça a vossa estimada posição. Quando pastoreamos, lidamos com ovelhas e o destino de todas elas é o abatedouro e da sua lã servirá para nos aqueçer. Não conheço nenhuma ovelha que se rebele sem que com isso apresse o seu destino previsto(destino de ovelha), como não nasci ovelha, mas bode, dispenso os serviços de um pastor.
Se quiser debater de verdade eu estou pronto.

MUNDINHO BATISTA

MUNDINHO BATISTA
POR MOISÉS PEIXOTO



1- Ninguém vai a uma Igreja Batista à-toa. Mesmo atendendo a um convite sem compromisso, ninguém vai desinteressado, apenas para gastar o tempo. Mesmo que seja por este motivo, termina ouvindo tudo o que é dito lá dentro. Estando lá, tudo ou nada pode acontecer. A pessoa pode ser afetada ou ser contrariada; Da entrada da porta até o momento de passar por ela de novo para ir embora, o indivíduo estará sujeito aos diversos tipos de constrangimento por parte do pastor e demais membros da Igreja, porque tudo o que acontece ali tem propósitos proselitista. A verdade da Igreja tem que ser reafirmada e ser também a verdade de mais pessoas.

2- O momento do culto pode seduzir, pode emocionar e vir ao encontro de quem está lá ouvindo. Mas ao ir ao encontro, nunca bate com alguém vazio, sem nada a dizer; em outras palavras, ninguém está lá na posição de recipiente vazio pronto para ser, simplesmente cheio. O referido encontro não é uma via de mão única, não é um monólogo. O que acontece neste momento é um diálogo, muitas vezes um debate ferrenho, onde as mensagens que lhes são dirigidas por tudo o que acontece no culto se entrecruzam com o ouvinte; que na verdade não é apenas um ouvinte. O silêncio deste não significa passividade. Ao ouvir todas as mensagens, sejam estas musicais, testemunhos pessoais e a pregação; bem como ao ver todas as encenações, coreografias, gestos e demais posturas dos membros da Igreja, o dito “ouvinte” que está ali visitando, está de alguma forma [dentro da cabeça dele pensando no que está ouvindo], dialogando com todas essas mensagens. Neste sentido ir e assistir ao culto, é o mesmo que ir participar de uma grande duelo grupal, onde você estará sujeito a ser convencido a fazer dele parte.

3- Uma vez perdendo a capacidade de manter o diálogo, de contradizer ou de responder aos seus interlocutores, a pessoa pode ser engolida pela fala deles; sua verdade pode ser substituída pela deles, enfim, você termina se rendendo aos apelos do grupo. Você é desarmado, rendido e, simbolicamente, demonstra isso ficando com as mãos para o alto, bem erguidas, em resposta ao convite que é feito pelo pastor. Você se “converteu!”

4- Mas também a pessoa pode simplesmente ir propensa a aderir ao grupo. Este, nem precisa fazer muito esforço para envolvê-la, seduzi-la porque, de alguma maneira, ela já vai ao seu encontro seduzida por algo que imagina nele encontrar. Uma pessoa assim, não vai para dialogar, duelar com as diversas interlocuções a qual estará sujeito; ela vai mesmo é para se aliar e com ele coopera, desde que pense que suas perspectivas estejam sendo bem entendidas e acredite que possam ser satisfeitas no interior do grupo. O fato é que “o converso não sabe no que crê” (ALVES, 1982:270).

5- O batista, o crente ou o evangélico não é forjado no momento em que ele se converte. É o convívio que ele passará a ter dentro da Igreja e com ela que lhes dará tal formatação. Uma vez tendo decidido freqüentar a Igreja continuamente e participar das suas atividades a pessoa vai tomando conhecimento do imaginário religioso do grupo e sendo por ela induzida a primeiramente ser “batizada”. O batismo é o ritual que simboliza o “novo nascimento” da pessoa e o desejo dela de fazer parte da “Igreja de Cristo” e da denominação que a representa. Como parte deste simbolismo, a pessoa tem de, antes de ser batizada, fazer uma “profissão de sua fé” [uma declaração pública] diante da Igreja, respondendo a inúmeras perguntas feitas pelo pastor ou qualquer membro dela. Só ocorrerá o batismo se a Igreja se satisfazer com as respostas que o novo prosélito der e o aceitá-lo, após discussões e uma votação a respeito. Costuma-se sempre aceitar candidato mesmo que não saiba responder a todas as perguntas que lhes são feitas; dificilmente algum pedido é recusado. O difícil não é entrar para a Igreja, mas é sair dela, mesmo que a pessoa seja sumariamente excluída pelos seus integrantes. O indivíduo sai da Igreja, mas esta não sai dele; ela pode até sair dele embora que ele não saia dela jamais.

6- O batismo é apenas uma parte do processo de assimilação a qual o neófito vivencia, outras experiências lhes sobrevirão. Os assim chamados, “novos convertidos” pela Igreja, são levados a participarem de uma escola dominical para serem amplamente doutrinados em alguma classe formada por membros antigos da Igreja ou em classes formadas especialmente para os novatos do grupo. É nesta escola dominical, onde as pessoas aprendem a manusear os signos e símbolos religiosos da respectiva denominação na qual a Igreja faz parte, isto é, aprendem a utilizar a versão da Bíblia aceita pela Igreja; a fazer o mesmo tipo de leitura dos demais membros; a conhecer os limites do grupo desta leitura e seus padrões éticos de comportamento interno e externo (a subjugar as demais religiões, e obedecer a real democracia cristã). Não obstante, as pessoas são assimiladas por outros meios também.
7- O neófito vai absorvendo o modo de ser da Igreja da qual participa na medida que vai participando das outras atividades patrocinadas por ela, além da escola dominical. E isso se dá por meio dos diversos tipos de cultos que lá ocorrem não só no domingo, mas em outros dias da semana tanto no próprio templo como em alguma casa de algum dos irmãos; (praças, quadras, locais de grande circulação popular) dá-se também através do envolvimento com outras atividades, tais como Acampamentos, retiros espirituais, atividades esportivas, competições, jogos educativos e de lazer especificamente. (intercambio como forma de mostrar e comparar a realidade de outros grupos, evangélicos ou não!)[Todavia, existem outras atividades e acontecimentos não oficializados e até, publicamente condenado pela Igreja que ela, paradoxalmente, faz ou dentro nela existem e que também contribui para a formação/construção do evangélico, do crente ou do batista.]

8- Não é só de virtudes religiosa que é feito um evangélico, mas também de todos os vícios humanos também. A mudança não é ontológica, o que muda é apenas a antiga forma de linguagem (ALVES, 1982:...). O novo nascimento não é um aprimoramento, um progresso, uma evolução espiritual, místico e nem uma “volta às origens”, um “recomeçar”. Ninguém morre, fisicamente e biologicamente falando, e ressurgi com um novo corpo, um novo dentro e fora, um no (novo) ser mitológico. Este “novo nascimento”, é um continuar vivendo como sempre se viveu, porém, com o colorido e um sabor dado pelo grupo onde este novo nascimento aconteceu. É um vestido, é uma casca, é uma pele que a pessoa adota para se diferenciar, aparentemente, dos que estão fora da Igreja.



O TEXTO VAI SER TERMINADO!!! POR ENQUANTO É SÓ!!!!

TEMPUS FUGIT”, “TEMPO HISTÓRICO

“TEMPUS FUGIT”, “TEMPO HISTÓRICO”, UMA REFLEXÃO.
Moisés Peixoto

Introdução

Para a maioria de nós, o tempo não é apenas real, mas o mestre de tudo o que fazemos. Somos observadores de relógios, seja por natureza ou treinamento. Dizem alguns biólogos que nossos corpos estão cheios de relógios vivos [biorritmos]– mecanismos que governam como a ponta-pé do jogador de futebol acerta a bola, quando nos sentimos sonolentos e talvez, quando nosso tempo acabou. Já o advento da Internet eliminou o incômodo de ter de aguardar a correspondência enviada pelo SEDEX. Em tempo de Internet, tudo ocorre em todos os lugares ao mesmo tempo. O tempo, em essência, triunfou sobre o espaço. Enfim, essas e outras reificações social do tempo é genuína, mas o que podemos falar acerca do tempo afinal? O que dele pode ser afirmado? Por acaso: há “um tempo” sobre a qual possamos tratar? O que é isto: tempo? Pensar sobre ou desenvolver uma idéia a qual possamos denominar de tempo é enveredar numa tarefa por demais complexa, é entrar num labirinto sabendo que não sairemos dele jamais. Pois quando pensamos, enfim, ter alcançado a sua saída descobrimos que, na verdade, entramos num outro lugar, que passamos somente por uma porta dentre inúmeras que existem dentro dele. Discorrer sobre tempo é “hipertexualiza-lo”, é entrar no “buraco do coelho da história de Alice no país das maravilhas” para nele poder entrar noutros. Inúmeras são as idéias sobre ele. Esta dificuldade é percebida por José Carlos Reis quando afirma, no primeiro capítulo do seu livro: Tempo, História e Evasão que: “há, portanto, falares sobre o tempo” (1994:12). A única coisa talvez em comum a respeito deste fenômeno seja as expressões utilizadas para se referir a ele. Estas, segundo o supracitado autor, existem em abundância, a saber: “Expressões como antes, depois, durante, presente, passado, futuro, instante, agora, ontem, hoje, devir, duração, repetição, passado, futuro, instante, agora, ontem, hoje, devir, duração, repetição, evento, sucessão, simultaneidade, eternidade, consciência, natureza - expressões que querem significar relações ou atribuições temporais, isto é, relações de anterioridade, posterioridade e simultaneidade ou a sucessão de eventos passados, presentes e futuros” (1994.:13). Sendo assim, não há como se referir ao tempo como só houvesse um, mas transitar por alguns. Talvez seja por isso, que precisamos fazer uso dessa variedade de vocabulários conscientes das suas limitações.
Nossa reflexão pode, portanto, partir de qualquer uma das definições sobre isto que chamamos de tempo e a partir disso, irmos desdobrando-o, ou melhor, entrando num outro “buraco do coelho”. Sendo assim, refletiremos neste artigo sobre o tempo chamado de “histórico”, o “Tempus Fugit”, sempre em relação a algumas outras idéias estabelecidas referentes ao tempo.

1. O TEMPO ONTEM E HOJE

Na antiguidade, a tentativa mais famosa de se falar do tempo, que mais nos diz respeito enquanto sociedade ocidental foi feita por Santo Agostinho em suas Confissões. Embora, convém lembrar que sua abordagem é estritamente cristã. Para começar podemos dizer que ele, no texto de número 25 do livro XI, de suas Confissões, que trata do homem e o tempo admitiu e lamentou sua própria ignorância a respeito:
“Confesso-Vos, Senhor, que ainda ignoro o que seja o tempo. De novo Vos confesso também, Senhor – isto não o ignoro -, que digo estas coisas no tempo e que já há muito que falo do tempo, e que esta longa demora não é outra coisa senão uma duração de tempo. E como posso saber isto, se ignoro o que seja tempo? Acontecerá talvez que não saiba exprimir o que sei? Ai de mim, que nem ao menos sei o que ignoro! (Agostinho, 2002: 332)”.

Apesar da sua confessa ignorância, ele tenta ainda teorizar a respeito. Para Santo Agostinho, tempo seria a extensão de alguma coisa mesmo ignorando o que é. Ele mede essa extensão, não em função do presente por ignorar o seu termino, não em função de um futuro porque não existe ainda e nem em função de um passado porque não existe mais; o que é medido por ele é um tempo livre dessas limitadoras perspectivas, mas preso ao testemunho dos sentidos dele que não tem um tamanho exato. Não temos como precisar nossas sensações, elas fluem anarquicamente “Sei perfeitamente que meço o tempo, mas não o futuro, porque ainda não existe. Também não avalio o presente, pois não tem extensão, nem o passado, que não existe. Que meço eu então? O tempo que presentemente decorre e não o que já passou? Assim o tinha dito eu”.(2002:334)
Reis explica que Santo Agostinho segue o mesmo raciocínio de Plotino sobre o tempo. Para ele, ambos seguem uma tendência subjetivista que situa o tempo na alma, na consciência e no espírito. O tempo seria, segundo esta tendência, o desdobramento das relações da consciência consigo mesma. Cada indivíduo possui o que se pode chamar de atribuições temporais, isto é, ele é passado, presente e futuro. Essas relações são do evento consigo mesmo e não mais em relação aos outros; estes deixam de ser o referencial de tempo das pessoas. “A reflexão sobre o tempo da consciência, exterior ao tempo da natureza, será desenvolvida, inicialmente, por Plotino e Santo Agostinho. Eles revelaram a dimensão da interioridade do tempo. O tempo seria a ‘mudança’ vivida continuamente pela consciência em sua relação a si e ao mundo”.(1994:29) No que diz respeito a Santo Agostinho diretamente, ele só sabe que o tempo é um produto criado por Deus junto com o homem; e sendo assim, qualquer medição, quando ocorre, é a posteriori feito próprio homem. Não se mede o tempo que Deus levou para criar, mas a duração de suas criaturas e de suas realizações que, em última instância, são determinadas por ele. Visto que antes de Deus não havia o tempo. No sistema cristão: “Jesus Cristo é o mesmo, ontem, e hoje, e eternamente (Hebreus, 13:08)”. Além disso, Agostinho não sabe mais nada a respeito do tempo. Suas dúvidas revelam a imensa angústia de alguém que ainda não descobriu uma resposta satisfatória. Enfim, o tempo para ele é um mistério de difícil definição e a sua medida é realizada pela alma, das impressões que ela possui nela própria.
Uma compreensão acerca do tempo na chamada modernidade pode ser encontrada em Kant, na sua crítica da Razão Pura. Nela, ele define o tempo como algo que existe a priori, metafisicamente, no sentido de que ultrapassa o domínio da experiência e não pode ser objeto de um conhecimento científico. O tempo está longe de ser uma percepção externa, oriunda da experiência ou da prática diária dos homens. Ele já existe em si mesmo e é anterior a nossa vivência; o tempo é uma pressuposição sob a qual tentamos representar:
“O tempo não é um conceito empírico tirado de uma experiência qualquer. Já que nem a simultaneidade nem a sucessão se apresentariam na percepção se a representação do tempo não se constituísse em seu fundamento a priori. Só pressupondo essa representação podemos demonstrar a nós mesmos a existência de uma coisa num só e mesmo tempo – simultaneamente – ou em termos diferentes – sucessivamente. O tempo é uma representação fundamental que constitui a base de todas as intuições. É impossível suprimir o próprio tempo no entendimento dos fenômenos em geral, conquanto se possam perfeitamente separar os fenômenos do tempo. O tempo é, sem dúvida, concebido a priori. Toda a realidade dos fenômenos é possível somente no tempo. Pode-se prescindir de todos os fenômenos, mas o tempo não pode ser suprimido – enquanto condição geral da sua possibilidade”. (Kant, 2001: 73).

Para Kant também, o tempo tem apenas uma dimensão e não acontece do mesmo jeito e velocidade para todos; ele é diferente e sucessivo. Não se fundamenta na experiência de vida porque, como não há uma só experiência de vida igual para todos, logo, o tempo não seria universal e nem objetivo. Não é a experiência de vida que determina o tempo, mas as noções acerca dele que a possibilitam; noções oriundas de uma intuição sensível e pura. “O tempo não é um conceito discursivo ou, como se diz, um conceito universal, mas uma noção pura da intuição sensível. Tempos diferentes são apenas partes de um mesmo tempo” (2001:73).
Kant, apesar do que disse acerca do tempo, não conseguiu escapar da sua própria experiência de vida e da sociedade do seu tempo quando formulou sua tese a este respeito. Aprendeu a empregar o conceito de tempo no sentido particular que havia adquirido em sua época, ligado aos progressos da física e da técnica. Assim afirma Nobert Elias a respeito dele: “A partir de sua experiência pessoal, Kant extraiu, muito precipitadamente, a conclusão de que essa experiência e esse conceito do tempo devia representar uma condição imutável de toda experiência humana. Nem sequer pensou na possibilidade de verificar essa hipótese, procurando saber se os homens, sempre e em toda a parte, efetivamente possuíam ou havia possuído um conceito permanente de qualquer experiência humana” (1998:52).
Nos dias de hoje, em pleno século XXI, o conceito de tempo mais utilizado advém do senso comum exposto em muitos dicionários. Neles, o tempo é um meio infinito no qual os acontecimentos se sucedem; medida de duração dos fenômenos, da existência, etc; momento fixado, prazo; época, período; estação, estado da atmosfera num determinado momento e lugar (chuva, sol, neve e etc...); ritmo, divisão de um compasso musical e etc... Mas, podemos encontrar em outras literaturas, conceitos oriundos do senso comum muito mais trabalhado, onde tempo: “é o enigma tantálico que transparece, como pano de fundo, em todas as manifestações e pensamentos humanos. Ele é existencial, social, cósmico e orgânico. Ora linear, circular, espiralado, pontual, processual, regular, irregular, finito, infinito, duração; ora um mero constructo cultural sem significação” (Aguiar, 2000:77). O grande problema nisto tudo é que todos os termos empregados em nossa sociedade alusivos ao tempo apontam para uma concepção naturalista do mesmo; como se fosse um fenômeno a-priorístico. Termos como: “... A hora, o dia, o mês e o ano são formas de interpretar e medir o tamanho do tempo” (Turazzi e Gabriel, 2000:08). O “nosso mundo” industrial é construído com este “tempo” como tivesse sido sempre assim, por isso ele tem tamanho, espessura e ritmo, podendo ser medido ou interpretado, jamais construído ou reconstruído.
Não obstante, podemos trabalhar com uma idéia diferente de tempo que para nós poderia ser o nosso único tempo de fato. Estou falando do tempo histórico ou do tempo social. Este é o nosso único tempo, não há outros a não ser variações sociais desse mesmo conceito. Aquela diferenciação que é feita entre o tempo histórico e o tempo físico ou natural que é ensinado nos livros didáticos de história, não passa de parvoíces, uma vez que todo tempo, para nós, é social, é histórico. Todavia, o que pode ser isso mesmo, o tempo histórico?


2. O TEMPO HISTÓRICO

Não sabemos o que o tempo é porque ele não existe.Todavia, é possível estabelecermos uma compreensão do que ele tem sido e está sendo para nós. Neste sentido ele é histórico. Basta observar como sua compreensão atravessa a se próprio. Historicizamos o tempo, não para encontrarmos o tempo, mas a nós mesmo, ocidentais. Somos nós que construímos este conceito e o modificamos, bem como o universalizamos a força. O tempo histórico é uma construção social:
“Não há temporalidade fora de uma visão política de mundo, fora dos quadrantes de significado de uma sociedade. As historicidades como conhecemos estão intimamente ligadas ao modo como as sociedades criam, ao mesmo tempo, mercadorias e imaginários, concretude e ilusão, subjetividade e objetividade, interioridade e mundo. Os ritmos socioindividuais dessa criação, sua produção e sua reprodução incessante, são os principais formatadores daquilo que vivemos, percebemos e sentimos como o tempo.” (Caldas, 1999: 54).

Se nada acontecesse em lugar algum ou se nós não existíssemos, ainda assim o tempo existiria? Ele passaria? Como poderíamos saber da sua existência ou se ele realmente teria passado? Estas questões são para os enxergam o tempo como um elemento da natureza. Mas, como o tempo é social e histórico, este tempo naturalizado não deixa de ser também uma criação de uma dada sociedade no tempo. O tempo depende da sociedade, depende de onde ela se localiza e passa mais rápido ou mais devagar de acordo com a sua situação (ou posição/referência) e vai para frente ou para traz, dar voltas ou sempre se renova (o ”eterno retorno” de muitas civilizações da Antigüidade) conforme for sua visão ou modelo explicativo do mundo (paradigma social) de sua sociedade. Será que os índios que viviam na América Central, quando lá aportou Colombo, também pensavam que era 1492 d.C. ? Sabiam que estavam no “período pré-colombiano?” O ano de 1492 existia antes deles e dos europeus? Certamente que não! Já os gregos antigos entendiam o tempo como um círculo que sempre se repete. Com base na observação daquilo que eles chamavam de ”natureza”, eles percebiam que ocorre um processo de nascimento, desenvolvimento, decadência e morte, que se repete continuamente. Na primavera, as árvores florescem; no verão, dão os frutos; no outono, perdem as folhas; no inverno, parecem mortas. Voltando a primavera, elas renascem. Por essa maneira de pensar o tempo, o envelhecimento e a morte não são considerados desgraças. Pelo contrário, ambas são apenas preparação para o novo. A passagem (ou percepção) do tempo não causa ruína, apenas renova. Portanto, tempo deriva do modo de vida de uma dada sociedade, da maneira como eles constrói sua realidade, por isso, o conceito de tempo, sua contagem e tudo mais relativo a ele mudam conforme o lugar e a época, por isso que é histórico e que é social.

3. O PARADIGMA DOTEMPO OCIDENTAL

A nossa definição ocidental de tempo está baseada ou enxertada em um paradigma filosoficamente, construído com a idéia de progresso, vinda do iluminismo e de evolução formulada no século XIX. Sendo assim, ele é tratado como uma mercadoria ou um objeto, que uma vez utilizado, é descartável, jamais voltará a ser usado novamente. Por sinal, em nossa sociedade industrial, podemos até comprar o tempo, quando escolhemos um eletrodoméstico mais rápido que um outro ou quando comemos “fast food” em nosso dia-a-dia. Este tempo parece seguir uma única direção e na medida que segue vai se “superando” sempre, isto é, o momento seguinte será sempre melhor que o momento anterior. Para nós ocidentais modernos, seria muito estranho se o nosso relógio começasse a andar para trás, ou se as plantas crescessem na direção oposta, para dentro da terra, ou se um prato quebrado voltasse a ficar inteiro. Todavia, foi o calendário cristão que introduziu a idéia de começo e fim dos tempos, contrariando a idéia grega de tempo circular que sempre se renova. Segundo a visão cristã, o começo dos tempos localiza-se no momento em que seu deus criou o mundo, e o fim dos tempos será o dia do juízo final. Fora disso, existe a eternidade (onde não há tempo), que não tem começo nem fim.
Com a criação do mundo e das pessoas passa a haver a datação do tempo. Depois do juízo final, os homens terão o direito de ingressar na eternidade. Segundo a crença cristã, os que “aceitaram a Cristo pela fé” ou que foram “bonzinhos” vão para o “Paraíso” e os “incrédulos” ou “malvadinhos” para o inferno. Conforme esta leitura da bíblia, não haverá outro tempo histórico, não haverá redenção para os maus, ou seja, não haverá segunda chance. É ela mesmo que diz: “,..., depois da morte, segui-se o juízo” (Hebreus 09:27b). Esta é uma das razões do tempo ocidental ser progressivo. Nem todas as religiões têm esta visão do tempo (veja o caso do espiritismo). O nosso pensamento a respeito do tempo está estruturado nesse sistema de crenças. Mas outras crenças irão se juntar a essas posteriormente e nos ajudarão a vermos nele, no tempo, algum sentido absoluto.

4. PARA ONDE VAI O NOSSO TEMPO? - A QUESTÃO DO SENTIDO

Os tempos ou múltiplos tempos são opacos, insondáveis, isto é, eles são enigmáticos. São como o fundo do mar: inacessível, inatingível. Não se pode achar o fundo. O nosso tempo ocidental também é assim, mas o que faz ele ser ocidental, ser o nosso tempo, é o seu projeto moderno de civilização, elaborado pela Ilustração européia a partir de motivos da cultura judeu-clássica-cristã e aprofundado nos dois séculos subseqüentes por movimentos como o liberal-capitalismo e o socialismo. É por isso que ele é ordenado em seqüências onde cada uma é diferente e melhor que a outra. Todavia, para realizar isso, fazemos uso da matemática, fazemos uso de números, enfim, fazemos uso de datas. Mas, o que são datas? Datas são números, índices que fixam acontecimentos, são pontos de luz num denso e escuro mar de eventos ou acontecimentos acumulados pelos séculos dos séculos, sem os quais seria impossível sequer vislumbrar no opaco (insondável) dos tempos os vultos das personagens e as órbitas desenhadas pelas suas ações.
Entendemos por números como sendo parte de um todo, elemento de uma série ordenada. Assim também é a data para nós ocidentais. Os fatos se passam uns depois dos outros. Para contá-los, isto é, narrá-los, é preciso também contá-los, isto é, enumerá-los. Contar é narrar e contar é numerar. Contar o que aconteceu exige que se diga o ano, o mês, o dia, a hora em que o fato se deu e, matematicamente, não volta mais. Desta forma, somos induzidos a pensar e vivenciar a seqüência dos acontecimentos, dos dias, dos meses, dos anos, enfim, das datas ou do tempo, como tendo um sentido, um só movimento, e que este, por sua vez, parece seguir uma única direção que vai sempre passando, tal qual uma flecha que aponta para uma direção - do passado para o futuro. O passado já acabou e não pode ser alterado, mas ele nos dá alguma idéia do que vai acontecer no futuro. Para o olhar seqüencial, tudo quando sucede traz a chancela de um número disposto em uma série; logo, o momento passado, o momento anterior, já passou e, matematicamente, não volta mais. Assim sendo damos ao tempo histórico uma linguagem de irreversibilidade. Cada minuto da História dura até apagar-se, isto é, esvai-se, mas para ser substituído por outro, e assim sucessivamente. Este é o modelo de tempo que presidiu à evolução das técnicas ao longo da era industrial.
Na Europa, o tempo caminha para frente na seguinte seqüência ou na seguinte direção, nomeadas pelos respectivos sistemas de produção que ela experimentou: 1) Pré-história (caça, pesca e coletagem); 2) História antiga (agricultura, invenção da escrita); 3) Idade Média (oração, guerra e agricultura); 4) Idade Moderna ( trabalho braçal mecanizado ); 5) Idade Contemporânea ( trabalho mecânico automatizado ).Tal seqüência deixa entender, que o modo de vida ou sistemas de produção européia teve um início, considerado, simples e que foi sucedido por outras formas de organização mais complexa e supostamente “melhor”. Passa uma idéia de que tudo o que eles são “hoje” é um resultado de tudo o que eles foram “antes”. Na verdade, esta visão é produto de um evolucionismo, típico do século XIX. Este jeito de dividir o tempo é influenciado pela forma de pensar e de viver dos europeus, mesmo não sendo também algo absoluto entre eles Para alguns destes, existe a possibilidade do tempo histórico ser imóvel e o conceito que se tem de passado, presente e futuro não fazer nenhum sentido para eles.
Portanto, para onde é que vai o nosso tempo histórico? Para quanto nenhum! A seqüência que os nossos referencias permitem perceber não produz necessária e automaticamente uma evolução do inferior para o superior. O depois não é produzido qualitativamente pelo antes, o passado nem sempre tem alguma relação com o presente. Não há sentido no tempo, muito menos em qualquer seqüência que se faça dele, a não ser o de uma temporalidade em si vazia, cega e irreversível. Talvez, a vontade de viver e de sobreviver seria o “sentido” imanente da série cronológica em que se inscreve a existência. A História se assemelha a uma cavalgada. Os impulsos levam os homens ora a se aproximarem por simpatia ou necessidade, ora a se afastarem por antipatia, indiferença ou presumida auto-suficiência. O horizonte de cada indivíduo e de cada grupo é fatalmente a morte. O sentido dos tempos históricos aí se resolve na pura alternância dos mecanismos de conservação, reprodução, destruição.

5. O “PRESENTE” E O “PASSADO” NO TEMPO HISTÓRICO

Diante de todas essas informações acima, como podemos pensar o presente e o passado? Simplesmente dizendo que presente “é o que acontece no momento em que se fala” e passado é, justamente o oposto? O momento em que já se falou? Não! O nosso conceito de presente e de passado dependerá sempre de um ou mais referenciais para existir, porque presente e passado em si mesmo não existe para ninguém, mas sempre para alguém. Ambos são variações de uma mesma linguagem que a nossa sociedade possui e por ela mesma fixada como referenciais ou fundamentos de um antes e de um depois conforme as circunstâncias do nosso presente. Sem uma experiência social de onde possam brotar ou se referenciar, não há como tais conceitos existirem. Portanto, presente e passado são imagens que nós construímos, são percepções, são leituras diferentes que fazemos de uma mesma sociedade. A linguagem é a única que é capaz de criar um tempo e estabelecê-lo como memória, como passado, como algo que é separado, digo, diferente do que chamamos de presente, mas que tem alguma ligação. É tido como um ponto de partida, uma origem, quando na verdade, não é origem de coisa alguma. Somos nós, sociedade ocidental e moderna que nomeamos um ponto de partida, um começo num “tempo que já passou”, mas que na verdade continua onde sempre esteve: no presente em toda sua espessura e elasticidade, para que nossa identidade (alteridade) e projetos sejam compreendidos. O valor do que somos e do que fazemos; o seu significado, é colocado sob a responsabilidade de uma origem mítica, criada por nós e entendida pelos nossos sentidos formatados ou programados socialmente. Quando, portanto, falamos de passado, estamos, na verdade, falando é do presente em toda a sua dimensão ou elasticidade. Esta, por sua vez, não se limita ao “já”, ao “agora”, a aquela percepção instantânea que sentimos. O presente é somente mais um dos nomes que damos ao tempo com ajuda de um referencial social por nós estabelecido. Comumente chamamos de “agora”, mas não existe qualquer momento no tempo que todos possamos chamar de “agora” ou de “presente”.
O presente não tem tamanho, espessura, localização. Ele comporta todos e tudo o que somos, ele é fluxo ativo e profundo, é uma percepção elástica, onde o imediato se mistura com o que vai deixando de ser imediato, num movimento sempre contínuo e renovador, É como um contínuo puxar e deixar de puxar um elástico. Poderíamos chamar de um eterno presente ou de um presente elástico, isso que vivenciamos em toda sua plenitude. É como o ar que aspiramos e expiramos continuamente, é como a respiração.
Nós não vivemos em um presente contínuo, num vácuo ou numa espécie de entorpecimento de nossos sentidos. O presente em que vivemos é maior e mais denso que esse e é percebido pelos nossos sentidos que se interagem. Só os outros animais, não humanos, é que vivem neste presente sem sentidos estabelecidos, sem sensações alguma, sem horizontes, sem perspectiva, sem objetivos, sem valores as quais possam estendê-los ou dar alguma dimensão mais ampla tal como funciona entre nós humanos: É como se fossem automatizados, pois todos os seus gestos são sempre repetitivos, são sempre previsíveis (para nós) e quando chega a hora (para nós), eles simplesmente somem, nunca existiram para eles mesmos. Já viram uma vaca chorar de saudade? Lutar pela sobrevivência? Recordar de fatos passados? E planejar o futuro?
Portanto, ao estudarmos, o passado, estamos estudando de fato uma dimensão do presente, uma leitura bem construída e ritmada por parcelas de tempo bem divididas, interligadas e ordenadas numa seqüência progressiva, tendo um “começo” e um “fim” escolhidos com antecipação, bem ao gosto particular e restrito de nossa sociedade. Fora dela ou além dela, não há “presentes”, não há “passados”, enfim, não há história que seja estudada. O que estudamos, de fato, são discursos bem construídos, versões aceitas do que somos ou deviríamos ser, camuflados de verdade ou de “verdade histórica”.
Ao estudarmos sobre o Jorge Teixeira, Cristo, seu falecido pai ou qualquer outra pessoa ou coisa ou acontecimento, estaremos, simplesmente, estudando uma expressão ou uma leitura do que somos nós ou do queremos ser. Apenas utilizamos isso tudo como material para construção daquilo que somos ou queremos ser. e que desaparecerá conosco. Esta é a forma de “presentificarmos” ou darmos alguma concretude temporária a uma sombra de algo ou de alguém que sumiu quando a luz desapareceu, se esvaiu. Ao estudarmos qualquer um das pessoas ou situações acima citadas, estaremos, por meio da linguagem, conservando e reavivando imagens por nós estabelecidas, petrificadas, objetificada, tal como uma mercadoria, dentro de “períodos” preestabelecidos. Eu me lembro do que não vi porque me contaram. Ao lembrar, re-atualizo o “passado”, “vejo”, “historio” o que outros “viram” e me “testemunharam”. Tudo versão ou versão de versões bem presente.

CONSIDERAÇOES FINAIS
O tempo não é um dado da natureza, mas sim da sociedade que a concebe ou uma criação cultural que faz parte do sistema de crenças dos homens. Em outras palavras, ele não existe ou não conhecemos o que é verdadeiramente o tempo.
Esse tempo que ordena nossa vida é um tempo que atemoriza porque leva a decadência e a morte, identificada com o fim e não com a renovação, como no pensamento grego. Nos tempos atuais, a radicalização desse temor levou à busca pela manutenção da juventude, para afastar a morte (quantos homens não sonham com a imortalidade!) e, o que é mais triste, levou a se considerar que aquilo que é velho não é bom, inclusive as pessoas...
O tempo é uma convenção criada para facilitar a nossa comunicação e o entendimento do que nos rodeia. Dentro dessa perspectiva, são criados as instâncias ou os pedaços de tempo que conhecemos como presente, passado e futuro e outros pedaços a mais...
Enfim, não existe o tempo físico ou um tempo em si mesmo. O único tempo que existe é o tempo histórico ou social; o “Tempus Fugit”. Presente ou passado tratados como coisas estranhas e separadas absolutamente, são diferenciações de uma mesma densa, elástica e espessa linguagem chamada presente. Estudamos história, quando de fato, estudamos o presente.



BIBLIOGRAFIA

1. AGUIAR, Roberto A. R. OS FILHOS DA FLECHA DO TEMPO: PERTINÊNCIA E RUPTURAS. Letraviva. Brasília. 2000.

2. BÍBLIA SAGRADA. Versão revisada da tradução de João Ferreira de Almeida. De acordo com os melhores textos em Hebraico e Grego. Imprensa Bíblica Brasileira. Rio de Janeiro. 1986.

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4. ELIAS, Nobert. SOBRE O TEMPO. Jorge Zahar Editor. Rio de Janeiro. 1998.

5. KANT, Immanuel. CRÍTICA DA RAZÃO PURA. Martin Claret. São Paulo. 2001.

6. MALDONATO, Mauro. A SUBVERSÃO DO SER: IDENTIDADE, MUNDO, TEMPO, ESPAÇO: FENOMENOLOGIA DE UMA MUTAÇÃO. Peirópolis. São Paulo. 2001.

7. TURAZZI, Maria Inez & GABRIEL, Carmen Teresa. TEMPO E HISTÓRIA. Moderna. São Paulo. 2000.

8. REIS, José Carlos. TEMPO E EVASÃO. Papirus. Campinas. SP. 1994.

9. Santo Agostinho, CONFISSÕES. Livro XI - O Homem e o Tempo.Coleção Os Pensadores. Nova Cultural. São Paulo. 2000.

“AGORA ESTOU CONTENTE”

UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA – UFRO
MESTRADO EM CIÊNCIAS HUMANAS
TEORIA LITERÁRIA
Profª. Dra. Marisa Khalil
Discente: Moisés Peixoto













ARTIGO:

“AGORA ESTOU CONTENTE”
O dialogismo num canto religioso batista.















PORTO VELHO/ RO
JULHO DE 2002

“AGORA ESTOU CONTENTE”
O dialogismo num canto religioso batista.

Por
Moisés Peixoto
Resumo: O presente estudo tem como objetivo a análise do dialogismo presente no corpus de um hino religioso. O discurso é um espaço permeado por várias vozes e a linguagem das canções religiosas, como qualquer outro discurso, não escapa a esta assertiva. Sendo assim, pretendo, apontar algumas dessas diferentes vozes que constitui, que atravessam [vozes religiosas e não religiosas] a letra de um hino cantado pelos batistas, intitulado: “Agora estou contente” e verificar o quanto elas reforçam ou não o elo deste grupo com a compreensão que Max Weber faz da ética protestante.

Palavras chaves: dialogismo; discurso; vozes; protestantismo; catolicismo e polifonia.


INTRODUÇÃO: A LINGUAGEM E O DIALOGISMO

É sabido que a língua não é somente organizada e usada para lamentar, rejeitar, suplicar, advertir, persuadir, comandar, mas também para cantar, pois cantar é um ato de fala, é uma enunciação. Cantar é discursar, é por a linguagem para agir de uma determinada maneira, é um modo de vida social e como diz Garcez: “... é uma atividade humana cujas categorias observáveis se modificam no tempo e apresentam um funcionamento profundamente interdependente do tipo de contexto social em que ocorrem” (1998:46). O hino, a canção ou qualquer outra linguagem musical, como discurso, é um produto do trabalho coletivo e histórico. E como tal, não existe no vácuo, mas está imersa numa rede de valores discursivos de vários níveis. Todo o universo lingüístico onde as canções musicais e demais modalidade de canto fazem parte, constrói-se, existe e funciona num universo social, coletivo, e não pode ser abstraído dessa condição.
Ao cantar estamos fazendo uso de várias unidades sonoras, cujo sentido só pode ser estabelecido e entendido como um produto do uso, como o resultado mesmo da atividade significante: o significado de uma palavra é o seu uso na língua. As configurações interativas da linguagem se consolidam na noção de discurso como forma de organização particular que tem as produções lingüísticas em função do tipo de atividade humana na qual se integram. Neste sentido, apesar dos hinos serem um discurso construído, inicialmente, pelas comunidades religiosas que o cantam, eles também interagem com o contexto social onde estão inseridos. Os hinos religiosos são, enfim, cantados num contexto social gerador de convenções, valores, símbolos, regras, e seu sentido são o resultado deste diálogo entre contextos. É a maneira de como eles são inseridos na trama das relações sociais, que confere à ação [de cantar hinos, entre outras ações também] características singulares e institui esta forma de ação. A linguagem seja ela religiosa ou não é uma ação interativa, pois segundo considera Bakhtin, “a verdadeira substância da língua não é constituída por um sistema abstrato de formas lingüísticas nem pela enunciação monológica isolada, nem pelo ato psicofisiológico de sua produção, mas pelo fenômeno social da interação verbal, realizada através da enunciação ou das enunciações. A interação verbal constitui assim a realidade fundamental da língua” (1997:123).
Vemos, enfim, o hino como uma enunciação; como um discurso, um texto religioso mediado por uma linguagem musical; linguagem esta que se fundamenta no entendimento de que são dialógicos E assim são “porque resultam do embate de muitas vozes sociais” (Barros, 1999:06) e também conforme justifica Lucila Garcez, “a enunciação tem uma orientação social, é orientada para o outro e é por ele determinada; porque sua compreensão depende de formulação ativa de resposta, de contrapalavras; é dialógico porque é essencialmente polifônico” (1998:56). O hino aqui em questão se intitula: “Agora estou contente” e faz parte da liturgia das Igrejas Batistas brasileiras.


1. O CORPUS DO HINO

A partir do pressuposto teórico de que a linguagem seja ela qual for, é uma forma de ação; que o dialogismo é o seu princípio constitutivo e a condição do sentido do discurso, apontaremos algumas das diferentes vozes que dialogam num hino batista e verificar se elas se aproximam ou se distanciam da ética protestante explicada por Max Weber.
O hino ou o canto religioso dentro dessa concepção tem sua melhor representação na letra da canção “The Shall My Heart Keep Singing”, escrita em quatro estrofes por J.J. Maxfield e publicada em 1888 na coletânea “New Hymns and Solos”, de Ira David Sankey (1840-1908); mais tarde, na coletânea “Secred Songs and Solos”; cuja música foi composta por Wiliam Augustine Ogden (1841-1897). A letra original foi traduzida por Stuart Edwin Mcnair (1867-1959). Este hino foi introduzido no hinário batista, denominado de “Cantor Cristão” na 36a. Edição, 1971 com o titulo “Cristo Satisfaz” (CC-395) e no “Hinário para o Culto Cristão” na 1a. Edição em 1990, intitulada: “Agora estou Contente” (HCC-319), omitindo a terceira estrofe da letra original de J.J.Maxfield. Eis o hino:

1-Riquezas não preciso ter, mas sim celeste bem; nem falsa paz, ou vão prazer, porquanto o salvo tem eterna paz no Salvador, por desfrutar o seu amor.

Estribilho:
Vivo feliz com Cristo, ele me satisfaz. Com esse amor do redentor, agora estou contente.

2- Do mundo as honras para mim perderam seu valor. Já tenho a paz divina, enfim, servindo ao meu senhor. E mais feliz, então serei ao ver a glória do meu Rei.

3- Até que esteja lá no céu, a onde Cristo entrou, e veja a face já sem véu de quem me resgatou, desejo só aqui viver de um modo que lhes dê prazer.


2. AS CONDIÇOES DE SUA PRODUÇÃO


É bom lembrar que a forma de enunciação do hino [sua estrutura] é determinada pelas condições de sua produção. É nos cultos das Igrejas que esta enunciação se produz inicialmente. Dependendo do culto que se faça e do contexto histórico-social que ele está inserido [o contexto brasileiro], este hino produzirá sentidos diferentes, apesar da letra, aparentemente, permanecer a mesma. Isto quer dizer que as chamadas “condições de produção” não são fixas e uniformes, mas dinâmicas. São nos cultos das Igrejas, onde os sentidos deste e de outros hinos são produzidos. Como no Brasil, o formato dos cultos não é de natureza simbólica e nem coletiva, mas pragmática e individualista, isto é, o culto tem como objetivo não o louvor e a adoração em si mesmo por parte da coletividade, mas sim, a conversão e reconsagração do indivíduo; são nessas condições, proporcionadas por tais cultos, que todos os hinos são cantados pela igreja. Eles são selecionados e executados com o propósito de reafirmar as suas “verdades” ou convicções oficiais, abraçadas por cada pessoa que dela fazem parte e de convencer os outros, de fora do grupo, a fazerem o mesmo, convertendo-se. Tal formatação litúrgica do culto dessas igrejas faz parte da tradição cultural construídas por elas ao longo do tempo, a partir da herança deixada pelos missionários que a instituíram em solo brasileiro. A respeito desta herança foi dito que: “em lugar do culto de louvor e adoração recebemos o culto de conversão-reconsagração, o culto-trabalho e o culto pedagógico” (Mendonça, 1990:182). Sendo assim então, o culto no Brasil, vem sendo um espaço forjado para que a experiência de conversão e reconsagração; trabalho e exercício da pedagogia possa acontecer. Tudo é voltado para esses propósitos, mesmo que nem sempre eles sejam atingidos. É bom lembrar que outras leituras podem ser feitas dos hinos que são cantados por uma igreja, não há como garantir que os objetivos do grupo sejam atingidos. Isto quer dizer que, não há como assegurar uma única interpretação dada para eles. Os hinos podem ser interpretados de muitas maneiras e isso devido ao seu caráter dialógico, polifônico.
Num culto batista nunca só há batistas participando, pessoas de outras denominações cristãs e de outras confissões religiosas [por exemplo: o Candomblé] podem se fazer presentes e ouvir ou cantar este e outros hinos. Qualquer hino cantado neste culto só envolverá a todos se alguma de sua voz constitutiva fizer parte também do repertório dessas pessoas presentes. Tais vozes podem está sendo reafirmada ou contestada dentro dela. Quando cantamos, ocorre um diálogo entre elas. Como são de variados matizes, há vozes, inclusive, que diferem da ética protestante descrita por Max Weber, por exemplo. Mas para que possamos verificar isso é importante termo de imediato, uma idéia resumida do pensamento Weberiano a respeito.

3. A ÉTICA PROTESTANTE SEGUNDO MAX WEBER


Na obra: “A Ética Protestante e o Espírito Do Capitalismo”, Max Weber investiga a emergência do capitalismo como sistema econômico e suas conseqüências na sociedade como um todo, concentrando seus estudos principalmente na Inglaterra. Weber, nesta sua obra, afirma que o objetivo da Reforma não era criar o espírito capitalista e que a mesma não foi à única responsável pela criação do capitalismo. Logo na introdução de seu livro, ele nos apresenta um conceito que será trabalhado no decorrer da sua obra, a racionalidade. É esta que define o espírito capitalista. Segundo ele mesmo diz: “... usamos provisoriamente a expressão do espírito do capitalismo (moderno) para designar a atitude que busca o lucro racional...” (2001:55) O capitalismo moderno é marcado por uma extrema racionalização e é um fenômeno peculiar à sociedade ocidental. Para entender tal questão é necessário levar em conta a ética particular dos primeiros empresários capitalistas e compreender que esta ética não estava presente nas outras civilizações. Para exemplificar esta ética peculiar, o autor faz referência às anotações de Benjamin Franklin, onde o aumento do capital aparece como ideal de um homem honesto e de crédito reconhecido. Weber afirma que a ética protestante foi um dos fatores de racionalização da vida que contribuiu para afirmar o que ele chama de “espírito do capitalismo”. Entretanto esta não foi à única causa na gestação do capitalismo, e sim um elemento que contribuiu para lhes dar forma. É a disciplina econômica e a maximização da eficiência técnica, enfim, o princípio da racionalização que distinguirá o capitalismo das formas tradicionais de gerir a economia e o tornará incompatível com a visão mágica ou sacra da Europa medieval. Após afirmar que: “O calvinismo foi à fé sob a qual se desenrolaram as grandes contendas políticas e culturais dos séculos XVI e XVII nos países mais desenvolvidos...” (2001:75), Weber foi procurar em certas correntes protestantes calvinistas a base das idéias que contribuíram para formar o espírito capitalista. Apesar de encontrar diferentes dogmas teológicos entre essas Igrejas, o autor observou que suas máximas teológicas eram semelhantes e que todas eram marcadas por uma conduta de vida baseada no ascetismo. O que lhes interessou foram às motivações psicológicas que tem sua origem nas crenças e práticas religiosas que criam um tipo ideal, sem pretender refletir com isso a realidade histórica. Desta forma, Weber busca racionalidade até na religião, querendo compreender como essas motivações agiram na realidade para formar o espírito capitalista. Assim, ao falar do calvinismo, Weber pensa na ética peculiar a certos meios calvinistas do fim do século XVII e não na própria ética de Calvino.
A ética encontrada por Weber nas religiões protestantes apresenta em sua base uma interpretação da predestinação que aceita os desígnios de Deus como irrevogáveis e impenetráveis, sendo tão impossível perder a graça, uma vez que ela foi concedida, quanto ganha-la se foi recusada. Outra característica é a rejeição do sagrado e do sacramento, visto que é em seu próprio espírito e não por intermédio de outrem que o protestante deve compreender a palavra de Deus e o sinal da sua eleição. Desta forma, toda a magia envolvida no conceito católico de conquista ou reconquista da salvação é eliminada e a religião passa por uma racionalização crescente. Porém a necessidade de saber se pertence ou não à categoria dos eleitos será uma constante na vida do protestante, que tentará identificar os sinais da salvação na conduta de sua vida pessoal, rigorosamente submetida aos mandamentos de Deus, e em seu êxito social, correspondente à vontade divina. Este êxito social compreende o sucesso na atividade profissional. Desta forma o sucesso é uma manifestação da glória de Deus e um sinal da salvação. O êxito no trabalho confirma a vocação pessoal e justifica a eleição, não se podendo comprar a própria salvação com boas obras ou sacramentos, o que diferencia o protestante do católico que, por sua vez, espera que a salvação surja da “mágica” do sacerdote ou de suas “boas obras”.
“Apesar, pois da inutilidade das boas ações como meios de se obter a salvação,..., eram, contudo indispensáveis como sinal de eleição” (2001: 86).
Outro sinal da eleição é o ascetismo que demonstrar que o crente é portador da verdadeira fé. O constante domínio de si e a conduta ascética contribuíram para racionalizar a gestão dos negócios, tornando o protestante apto a organizar as empresas e, conseqüentemente, racionalizando a economia. Porém, a acumulação de riqueza, proveniente do êxito profissional, poderia ser vista como uma contradição às leis divinas, o que não é verdade se observarmos que o condenável é a ociosidade e não aquisição de riquezas. O tempo não pode ser desperdiçado e deve ser dedicado ao máximo para o trabalho, já que “não é trabalho em si, mas um trabalho racional, uma vocação, que é pedida por Deus”. Além disso, o protestante deve usufruir somente daquilo que é absolutamente necessário para sua subsistência, evitando gastar com supérfluos e luxurias e combatendo o uso irracional da riqueza, o que fortalece a idéia de acumulação. Desta forma, originou-se um estilo de vida que alimentou diretamente o espírito do capitalismo, criando uma situação uma situação favorável ao seu desenvolvimento. Com a extrema valorização da riqueza e a idéia de que era necessário evitar o luxo, o lucro era reinvestido em trabalho, provocando assim uma incessante acumulação de capital. Weber afirma que esta organização racional dos negócios e esta conduta não são a causa única do capitalismo, mas sim um de seus elementos fundamentais. Por fim, a análise das relações existentes entre a ética protestante e o espírito do capitalismo é apenas um exemplo sugestivo que mostra como um código ético de origem religiosa determina um comportamento moral que transforma os aspectos econômicos.
4. AS VOZES ATRAVESSADORAS

Novamente segundo Bakhtin: “As palavras são tecidas a partir de uma multidão de fios ideológicos e servem de trama a todas as relações sociais em todos os domínios” (1997:41). Sendo assim, nenhum hino existe e nem é cantado no vazio. Como são produtos históricos-sociais, produtos eclesiásticos, não só tem finalidade religiosa, devocionais ou proselitista, mas também ideológica e política. São essas vozes que lhes atravessam.
Seria interessante realizarmos nossa análise a partir da letra original, mas não sendo possível, tivemos que nos deter na tradução mais recente dela em uso nas Igrejas que utilizam o Hinário para o Culto Cristão, uma vez que isto não afeta o dialogismo que pretendemos apontar. As vozes que buscamos identificar na letra deste hino, ainda continuam lhes atravessando. Não obstante, é bom lembrar que o hino em si mesmo não nos diz nada, não tem sentido e nem nenhum significado a qual possamos desvelar, descobrir. A sua interpretação é produzida quando ele é cantado, quando ele está em interação; fora disso, ele é somente apenas texto, somente discurso. Mas, que vozes podemos perceber na constituição desta canção? Que fios ideológicos tecem suas palavras? Ao observarmos a primeira estrofe:

1.“Riquezas eu não preciso ter mas sim celeste bem...” [1ªestrofe]

Muitos são as vozes que atravessam esse discurso do hino sobre a riqueza. Uma dela vem da sociologia e economia, que a define como, ter posses, ter bens e propriedades. Na linguagem tanto marxista como liberal riqueza implica em ser proprietário de algum meio de produção de bens que proporciona ao possuidor os benefícios da sociedade onde se encontra. O dinheiro, como os demais bens, é encarado como uma mercadoria e estão sujeitas as trocas, para que seja multiplicada. Ele deve ser gerador de mais dinheiro, mais riqueza. Não existe em si mesmo ou para si mesmo, mas é produto do trabalho humano.
A riqueza segundo a literatura bíblica é definida indiretamente de diferentes maneiras tanto no Velho quanto no Novo Testamento. Segundo Du Buit & Monloubou (1997:630-631): “No Antigo Testamento, a riqueza é contemplada em primeiro lugar como sinal de benção de Deus que recompensa a fidelidade do homem. A abundancia dos bens dos patriarcas e de Jó constitui um sinal dessa benção. A riqueza é um dom de Deus; é lícito deseja-la. Mas contra esse otimismo constante começam a se fazer ouvir vozes diversas. A dos Sábios, por exemplo, moderadas, mas às vezes sarcástica. Não se deve, segundo eles, dar demasiada importância à riqueza, porque ao morrer ninguém leva nada consigo. O rico não pode comprar um suplemento de vida. Além do mais, a riqueza traz muitas preocupações: Quem se farta de riquezas não logra conciliar o sono. A pessoa muito rica corre o perigo de afastar-se do senhor”. “No Novo Testamento, o dinheiro constitui um grande obstáculo para se entrar no Reino dos Céus; ele é personificado como se fosse uma divindade pagã ‘Mammon’”.
Há a voz [doutrina oficial] da igreja batista que dialoga também no hino, propondo uma única e válida interpretação, cuja inspiração advem de uma leitura particular da Bíblia, onde a riqueza é definida como ter posses e bens materiais também, mas que nada disso pertence ao homem, mas a Deus. O homem seria apenas o seu administrador. Segundo a declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira (1987:18): “Todas as bênçãos temporais e espirituais procedem de Deus e por isso devem os homens a ele o que são e possuem e, também, o sustento,... o crente é mordomo ou administrador da vida, das aptidões, do tempo, dos bens, da influência, das oportunidades, da personalidade, dos recursos naturais e de tudo o que Deus lhe confia em seu infinito amor, providência e sabedoria”. Já os chamados princípios batistas (1987:21), reafirmam que “os bens materiais em si não são maus nem bons. O amor ao dinheiro, e não o dinheiro em si, é a raiz de todas as espécies de males”. Observem que tal visão se relaciona com a ideologia liberal. É uma relação histórica. Os batistas surgem, enquanto denominação religiosa na Europa pós Reforma Protestante no século XVI e no Brasil, no início do período Republicano, no final do século XIX, junto com o liberalismo econômico. Sua doutrina é forjada em meio a esse contexto social.
Portanto, cantar: “riquezas não preciso ter” para quem já a possui e que vive de sua acumulação, seja este batista, católico, espírita ou qualquer outra coisa, pode tanto significar uma crítica como uma sugestão, quando aponta para um outro objetivo que tais pessoas deveriam buscar atingir: “os bens celestiais”. Tais pessoas já possuem bens materiais, já estão satisfeitas com elas ou até fartas delas, agora precisam também acumular bens de uma outra natureza. O que seria, portanto, “bens celestiais” para um batista, por exemplo? Nenhuma resposta seria satisfatória, uma vez que até os bens materiais poderia fazer parte desta categoria para eles. Neste caso, vai predominar o sentido que a comunidade lhes der. Para os que não possuem e nem acumulam riquezas, tal canção pode servir de consolo ou desculpas. Posso não possuir nenhum patrimônio, não ter emprego, moradia, saúde, vestimentas e alimentos e ser feliz assim mesmo, porque, quando eu morrer, terei tudo isso lá no céu. Posso também, me contentar com o que já tenho, mesmo que seja nada, e me satisfazer com os bens simbólicos que Deus me dar. Sou pobre, mas Deus me dar saúde e inteligência! Isto é que é uma benção celestial! “O salvo tem eterna paz no Salvador” assim afirma o hino ainda na sua primeira estrofe. Por isso dispensa a riqueza. O importante é ser rico espiritualmente. Bem aventurados os pobres de espíritos, porque deles é o Reino de Deus, assim diz os evangelhos.
Tal compreensão acima é ideológica. Uma vez que muitos protestantes apesar de falarem desse jeito, tem uma conduta oposta. Esta idéia não condiz com o ideal de valorização da riqueza que alguns deles defendem. Se fosse para eles mesmos praticarem tal entendimento, esta canção jamais seria cantada, porque ser cristão não significa fazer voto de pobreza e desprezar a riqueza por crê que ela não traz paz e nem prazer verdadeiro. Ora, quem assim agia, segundo Max Weber era o católico pré Reforma protestante. Este, segundo ele: “vivia eticamente da mão para a boca” (2001: 87). Se satisfazer só com os bens celestiais, para muitos calvinistas por exemplo, é se satisfazer com pouco; é sinal de que esta pessoa não é um eleito, mais sim um parasita de Deus. Isso tudo, se levarmos em consideração em que contexto econômico nós estamos inseridos, levanta inúmeras questões políticas, a saber: Por que cantarmos esse ideal num tempo onde a idéia de trabalho está se diluindo e o desemprego é muito mais real?
A pobreza era adotada como regra de vida no século XI como contraponto ao luxo proporcionado pela riqueza. Segundo Macedo: “... do século XI em diante, as cidades aumentaram em número e em importância. Justamente nesse momento, em que a riqueza proporcionada pelas atividades urbanas ficava mais visível, a pobreza passou a ser encarada como um ideal” (1996:58). Seria a pobreza, um ideal de vida almejado por quem assim canta em nossas cidades de hoje?

2. “Do mundo as honras para mim perderam seu valor”.[2ªEstrofe]

Do mundo as honras para mim perderam seu valor. Já tenho a paz divina. Este é o início da segunda estrofe e qual voz estaria cruzando esta frase? É a voz do ascetismo. Segundo Weber uma voz legitimamente protestante. Segundo ela, não poso sentir prazer com os resultados do meu trabalho. Nenhuma honra, que seja ela política, econômica ou social. O crente tem que ser discreto, poupador. O resultado do trabalho deve ser investido no crescimento desse trabalho e não no consumo ou na gastança. O consumismo, segundo esta ética descrita por Weber, é irracional para o capitalismo. Não obstante, no mundo do século XXI em que o prazer da vida é consumir e que você é aquilo que consome, tal ética protestante soaria estranho, não tem seguidores fieis nem entre os próprios protestantes. Frases do tipo que diz: “desejo só aqui viver de um modo que lhes dê prazer” não reproduz o ideal ascético dos protestantes do século XIX descritos por Weber, uma vez que o conceito de prazer foi também estendido, sem culpa alguma, aos homens. Estes passaram a visto com outros olhos pelos credos evangélicos. O prazer pode ser sentido, apesar do limite imposto pela regra de conduta rigorosa. Essa é a contradição em que os evangélicos vivem no seu dia-a-dia. Por isso, o ascetismo dos evangélicos de hoje tem se restringido mais aos discursos. Na prática, o que se ver, é extremamente o oposto. Desde a metade do século XX, podemos observar, o quanto o protestantismo de todos os tipos tem abraçado inteiramente a lógica capitalista, no que diz respeito à criação de um mercado especificamente dirigido ao consumidor evangélico para que possam, com isso, criarem toda uma gama de produtos variados e com isso obterem cada vez mais lucros pessoais. Neste sentido, todos ou quaisquer argumentos religiosos, teológicos e comercias para justificar o empreendimento podem ser usados. O empreendimento é visto como uma cruzada evangelística; o mercado como um espaço onde se concorre com satanás e os seus produtos e o lucro como a vitória dos santos contra o príncipe das trevas. O lucro material é visto como uma benção de Deus que proporciona também bênçãos espirituais. Muitas pessoas têm sido evangelizadas e se tornado evangélicas por meio desses produtos disponíveis no mercado. Nele podemos encontrar todos os tipos de produto, desde Bíblia de vários tipos para variado gosto, como chaveiro com mensagens religiosas, CDs, camisas, bonés, celulares e etc. Tal comportamento deixou de ser visto como “coisas do mundo” e as “coisas do mundo” passaram a ser algo diferente.
Enfim, há ainda uma ética protestante que subjaz o comportamento dos evangélicos de hoje, porém esvaziado do antigo ascetismo por eles vivido. O protestantismo deixou de ser puritano para se tornar utilitarista, logo, algumas das vozes que atravessam um hino como este acima supracitado, dificilmente, faria referência ao ideal ascético do passado. Os diferentes entendimentos aqui construídos são apenas alguns dos inúmeros que podem ser construídos.






BIBLIOGRAFIA

1. BAKHTIN, M. (1929). MARXISMO E FILOSOFIA DA LINGUAGEM. Hucitec, São Paulo, 1997.

2. BARROS, Diana Luz Pessoa de. DIALOGISMO, POLIFONIA E ENUNCIAÇÃO. In Dialogismo, Polifonia, Intertextualidade. 01/09, Editora da Universidade de São Paulo. São Paulo, 1999.

3. DU BUIT, F.M & MONLOUBOU, L. DICIONÁRIO BÍBLICO UNIVERSAL. Editora Santuário e Vozes. Petrópolis, 1997.

4. GARCEZ, Lucília. A ESCRITA E O OUTRO. Editora Universidade de Brasília, Brasília, 1998.

5. HINÁRIO PARA O CULTO CRISTÃO, JUERP, Rio de Janeiro, 1992.

6. MACEDO, José Rivair. RELIGIOSIDADE E MESSIANISMO NA IDADE MÉDIA. Moderna, São Paulo, 1996.

7. MENDONÇA, Antônio G. CRISE DO CULTO PROTESTANTE NO BRASIL: DIAGNÓSTICO E ALTERNATIVAS. In Introdução ao Protestantismo no Brasil. 171/204, Edições Loyola, São Paulo, 1990.

8. WEBER, Max. A ÉTICA PROTESTANTE E O ESPÍRITO DO CAPITALISMO. Martin Claret, São Paulo, 2001.

EVANGÉLICO, UMA IDENTIDADE EM CONSTRUÇÃO...

EVANGÉLICO, UMA IDENTIDADE EM CONSTRUÇÃO...



“... só o escrito me faz existir nomeando-me”.
Jacques Derrida

Moisés Peixoto*
Introdução

Fala-se bastante hoje em dia acerca dos evangélicos, eles são alvos de inúmeras reportagens de revistas semanais, jornais de grande ou de pequena circulação, são também notícia de telejornais e objeto de pesquisa acadêmica. Entre estas há do sociólogo Ricardo Mariano chega a dizer que: “o termo evangélico, na América Latina, recobre o campo religioso formado pelas denominações cristãs nascidas na e descendentes da Reforma Protestantes européias do século XVI. Designa tanto as igrejas protestantes históricas (Luterana, Presbiteriana, Congregacional, Anglicana, Metodista e Batista) como as pentecostais (Congregação Cristã no Brasil, Assembléia de Deus, Evangelho Quadrangular, Brasil para Cristo, Deus é Amor, Casa da Benção, Universal do Reino de Deus etc.)” (1999:10). O certo é que o vocábulo “evangélico” é hoje de domínio público. Não há quem não o tenha ouvido ou lido por aí. A proposta deste artigo é o de defender algumas idéias acerca dos evangélicos a partir do diálogo que travarei com alguns autores que versam sobre o mesmo tema; dialogando principalmente com o texto: “A força do Senhor” que foi publicada na revista Veja, edição 1758, ano 35- nº26 de 03 de julho de 2002 da editora Abril, da página 88 a 95.
1. Evangélicos, um fenômeno recente.

Evangélico é uma invenção recente, moderna, cuja relação com o mítico cristianismo do primeiro século, não passa de uma ficção oriunda dessa outra ficção. Quando um evangélico se reporta aos “primeiros cristãos” da história como estivessem falando de se mesmo, como se eles e aqueles fossem termos sinônimos, na prática, está apenas fazendo um discurso político e reproduzindo a ideologia do seu grupo religioso, que precisa de reconhecimento e penetração social. É de fundamental importância para ele e seus pares esta conformidade com um “passado”, que acreditam ser “real” e ter “acontecido de verdade”. Isso cria uma sensação de pertencimento a um lugar da unidade, cria uma identidade. A este respeito, podemos observar o exemplo de uma dessas igrejas evangélicas: a batista, que frente às demais, acredita ser a única que tem, de fato, sua origem em Jesus Cristo e na Igreja neotestamentária. Segundo a tese batista: “os discípulos de Jesus Cristo, que a partir dos Séculos XVII e XVIII passaram a ser conhecidos como Batistas, têm as mesmas doutrinas e práticas das igrejas cristãs do 1º século de nossa era” (Pereira, 1987:11). Como em qualquer comunidade, tribo ou sociedade, os evangélicos construíram uma existência de si para si mesmo. Todavia, é preciso compreender que só para eles, sua afinidade com Jesus Cristo e a Igreja Primitiva é indubitável. Por isso se enquadram muito bem no discurso da História e a tem como sua mais fiel aliada. É pela mesma razão [“histórica”], que muitos evangélicos também acreditam serem herdeiros da Reforma Protestante e que alguns estudiosos desse fenômeno confirmam tal tese como Clara Mafra, em Os evangélicos (2001:07), Ricardo Mariano, em Neopentecostais (1999:10), Ruben Alves, em Protestantismo e Religião (1982a) e Dogmatismo e Tolerância (1982b) entre outros, como forma de explicar suas eternas e convenientes divergências com o Catolicismo Romano e demais confissões cristãs. Sem se distanciar muito desta perspectiva acima, mas procurando propor uma distinção dentro do próprio fenômeno evangélico no que tange a tese da origem, as práticas e os pensamentos que desenvolvem, num artigo de 1992, intitulado: “Quem é evangélico no Brasil”, o professor Antônio Gouvêia Mendonça, cientista da religião da Universidade Metodista de São Paulo, UMESP, no conta que:

“Este termo surge na Inglaterra, na segunda metade do século XVIII e se referia a uma das alas da igreja anglicana inglesa influenciadas pelo movimento metodista, chamada de ‘evangélicos’, a outra tinha uma tendência católica romana. Essa ala se transformou em movimento e se espalhou pelo o resto do mundo ocidental, através das Alianças Evangélicas, principalmente por causa da franqueza do mundo protestante fragmentado diante da coesão e do avanço do catolicismo romano no século XIX e pelos efeitos do Iluminismo do século anterior. O objetivo desta Aliança era formar uma linha única para enfrentar o Catolicismo. [...] Evangélicos devem ou deveriam ser somente os adeptos dessa tradição ou corrente que se originou no século XVIII e que se espalhou através das Alianças e que se caracterizam pelo espírito conservador como ainda ocorre na Europa e nos Estados Unidos. Evangelicals significa conservador e adversário de tudo quanto cheire a liberalismo, modernismo e ecumenismo. Identifica uma ala muito forte do protestantismo atual e está presente em todas as denominações, abrangendo, às vezes, denominações inteiras. No Brasil este movimento chegou em São Paulo, em julho de 1903, com a fundação da Aliança Evangélica Brasileira, formada por pessoas de várias denominações protestantes, que fecharam um acordo em torno de pontos doutrinários comuns entre todas elas. Esta Aliança se transformou, pouco tempo depois na Confederação Evangélica do Brasil, que fracassou na tentativa de representar todos os cristãos não-católicos brasileiros. Porque, o ‘espírito evangélico’ só abrigava indivíduos e nada tinha a ver com as barreiras denominacionalistas. [...] Mas apesar de todas as diferenças entre as denominações e entre seus membros, estava consagrado o nome de evangélico para todos os cristãos não católicos no Brasil”(1992:04)”.


Partindo do pressuposto que, “a história é o falso lugar da unidade, dos acontecimentos, do tempo: esse é o lugar do texto” (Caldas, 1999:35b). O texto acima citado apenas está nos propondo uma outra leitura possível, um outro lugar textual desse grupo, uma outra explicação do que poderia ser isto que chamam de evangélico no Brasil. Ele não consegue singularizar e sua tentativa de historicização é pífia, é medíocre, como medíocres são os que não conseguem se libertar das amarras da história, ir além ou transcender a este discurso fundador. A história para tais pensadores é o chão por onde pode caminhar, analisar e explicar os seus discursos e os dos outros. Ele, como os próprios evangélicos não percebem que:
“A História jamais serviu para formar a consciência; ou mesmo como exemplo. Nada pode dizer ao presente, por sua singularidade inescapável. Sempre serviu aos poderes, às mentalidades reacionárias, às imagens fascistas de mundo. Desde o começo, a história esconde sua essência de singularidade desencadeadas, de falta de ligações em todas as instâncias, da falta de repetibilidade (mundo do objeto); e desde o começo luta para estabelecer exemplo, modelo, paradigma, lição, estrutura, ordem, existência. A História é uma mentira institucionalizada e instrumentalizada das lógicas ocidentais do objeto dirigido ao ‘mundo inteiro’” (1999:35a).

Os evangélicos, do A. G. Mendonça e da maioria dos seus colegas intelectuais, são evangelicais sob o ponto de vista da teologia e anticatólico sob o aspecto da estratégia. A sua identidade é forjada principalmente, mas não exclusivamente, a partir do contraste, da diferenciação com os católicos romanos brasileiros. O evangélico ou o crente, portanto, traz consigo um compromisso transparente de ser o oposto, a antítese do católico romano e dos outros credos religiosos, mesmo de tradição cristã perante a sociedade. “Era necessário identificar os recém-convertidos com um nome novo e esse foi ‘ crente em nosso Senhor Jesus Cristo’, ou simplesmente crente”. (1992:05) Sem o outro, isto é, os católicos romanos, os evangélicos não teriam se constituído.
Diferentes denominações religiosas cristãs utilizam a palavra evangélica como uma marca, um pré-nome ou sobre-nome. É com ela que a maioria, quase que absoluta, das Igrejas se identificam e se distinguem entre si. Até as pessoas cristãs não-católicas identificam-se assim também individualmente, do mesmo modo que suas igrejas. São os próprios evangélicos que se identificam desta forma, com este nome. É assim que são chamados e conhecidos, apesar das inúmeras diferenças existentes entre as igrejas que assim se denominam. Diferenças essas que nos faz pensar se evangélico é um nome ou um apelido. Esta é uma palavra inventada por eles e não pelos os outros [os seus adversários]. Eles é que espalharam e tornaram popular esta denominação. Os católicos que, segundo boa parte da literatura sobre os “evangélicos”, classificavam os convertidos a recém chegada religião do exterior de “protestantes”, “bode”, “bíblia”, “missa-seca” ou “crentes” e outros termos considerados pejorativos, refere-se aos membros dessa religião cristã pela mesma maneira como eles se autodenominam e costumam se identificar: de evangélicos.
Já quanto o nome “protestante”, nome puramente europeu, não vingou. Ele foi pouco utilizado e caiu logo em desuso; foram os integrantes do clero católico que tomaram emprestado este termo estrangeiro importado da Europa, foram eles que fizeram o uso dela nos primeiros tempos, quando não havia uma classificação autóctone mais apropriada na ocasião. Era necessário inicialmente identificar a religião concorrente, era preciso dar-lhes um nome, assim nasceu, passou a existir o nome “protestantes” ou “protestantismo”. Pouco tempo após, passou a ser empregado o termo “irmãos separados” e por fim evangélicos. Um novo personagem foi assim construído, uma ficcionalidade foi substituída por outra aqui no Brasil. “Evangélico” é o apelido mais freqüente, mais massificado e comum a todos os cristãos não-católicos brasileiros.

2. O evangélico da Revista Veja: uma análise.

Além da banalização do termo “evangélico” pelos próprios evangélicos no Brasil por todos os meios disponibilizados por eles, desde programas de rádio, televisão até todos os tipos de textos escritos a respeito, que circulam na sociedade através dos jornais, revistas especializadas, home pages, bate-papos eletrônicos, internet e etc. Apesar também da existência do “evangélico dos intelectuais”, presente em muitos livros publicados, não há em nenhum desses lugares ou escritos, quem saiba precisar com certeza o que seria isto: evangélico. Diante também do fato da existência inúmeras igrejas com esta denominação e práticas diferentes, muitas até antagônicas entre si, que confunde qualquer pessoa, fica difícil saber se estamos lidando com um substantivo ou com um adjetivo, com uma singularidade ou uma pluralidade, com “ovinos” ou “ovíparos”, com extraterrestres ou seres celestiais. Tratar a palavra evangélica, esta amálgama ilusória, esta abstração genérica, como se fosse um termo consensual e preciso é naturalizar uma construção social, é classificar o inclassificável, é tentar dar uma ordem ao caos. Um dos autores aqui citado, o Antônio Gouvêia Mendonça expressa muito bem essa dificuldade:
“No Brasil, o movimento evangélico entrou e ficou para fazer confusão. O Brasil, mais do que qualquer outro país da América Latina tem sido o destino de todos os sistemas de idéias religiosas alinhavadas noutro lugar. Aqui, descosturam-se, misturam-se e dão origem a esse caos protestante que dificulta, para não dizer impossibilita, qualquer tentativa de identificação ou classificação”. (1992:04)

É por tudo isso que “evangélico” é algo inexistente em si mesmo; só existe quando é nomeado, escrito ou falado, conforme afirmava Derrida: “É, portanto simultaneamente verdade que as coisas chegam à existência e perdem a existência ao serem nomeadas. [...] Aliás, não basta ser escrito, é preciso escrever para ter um nome. É preciso chamar-se” (2002:62). É assim que o evangélico passa a existir ou deixa de existir. Este, como qualquer outro nome, é constituído com os outros, em dialogo, como também os seus inúmeros significados e sentidos. Nesse diálogo podemos confirmar ou contestar o que se é dito e os “não ditos” e fazer fluir o que a escritura faz existir. É nessa perspectiva que agora farei uma leitura de algumas citações ordenadas numericamente, extraídas da reportagem da supracitada Revista.
Eis então as citações com as minhas respectivas leituras:

1- “O país mais católico do mundo está ficando cada vez mais evangélico”.[p.89]
– Nem todos que se tornam evangélicos, necessariamente, vem do Catolicismo Romano. Converte-se nas igrejas denominadas evangélicas, pessoas das mais diversas origens sociais, religiosas, políticas e econômicas. Não há distinção de pessoas que entram e que sai, embora, o processo de conversão ocorra de forma diferente para cada um deles. O proselitismo evangélico não seduz a todos, há quem não seja persuadido de nenhuma forma pela propaganda evangélica. Por isso, ser evangélico, simplesmente, não significa ter sido antes um não católico.
- Ficar cada vez mais evangélico não significa absolutamente ficar menos católico, pode-se ser tão católico quanto evangélico, afinal, ambas as religiões são cristãs. Afinal, a catolicidade não pretensão de uma única igreja ou denominação eclesiástica, mas de todas elas. É vocação do cristianismo querer ser universal, querer que só exista um só homem, uma Humanidade, um planeta, um só Deus, uma só Terra para todos e um só Céu e Inferno. O que varia, não é para mudar, mas para dizer o mesmo, fazer o mesmo.
- Não há nenhuma diferença essencial entre um evangélico e um católico romano, só formal: o mito fundador, Jesus Cristo, é o mesmo, bem como também a sua Escritura, a Bíblia. Ver diferenças na essência de ambas manifestações religiosa é justificar a necessidade da existência dessas instituições e a continuidade do poder nelas existentes; é ajudar a muita gente a continuar: trabalhando de graça nessas Igrejas [os leigos ou “o rebanho”], a viver as custas da exploração alheia [a classe dirigente sacerdotal, o clero, os pastores, missionários e etc...] e ajudar o Estado na reprodução das relações de poder e de classe na sociedade.

2- “O resultado do censo demográfico no quesito religião,..., mostra que mais de 15% dos brasileiros – um rebanho de 26 milhões de pessoas – são protestantes”. [p.89]
– Apesar do protestante ser confundido com o evangélico nesta reportagem, não podemos deixar de observar a mistura que é feita nessa hora. Esta ambigüidade que é a palavra evangélica, relativiza as conclusões do IBGE. A Revista Veja nos induz a entender: que ambos os termos são sinônimos, quando não é nada disso segundo outros pontos de vista. - O termo protestantismo caiu em desuso. Só é usado pelos pesquisadores do IBGE, que só vêem diferenças, fissuras entre protestantes e católicos e não dentro do próprio catolicismo e protestantismo. Não obstante, há quem veja nesses dois termos uma profunda diferença conceitual e histórica, como se o termo em voga hoje fosse resultado de uma evolução do termo anteriormente usado, mas também uma evolução cosmológica e, por conseguinte, teológica. A doutrina evangélica, por exemplo, da conversão difere das doutrinas dos reformadores europeus e norte-americanos. Clara Mafra, em seu livro: Os evangélicos chegam a dizer que: “a lógica, a conversionista dos protestantes que aqui chegaram ao Brasil sofreu suas transformações” (2001:18).

3- “As conseqüências desse crescimento são muitas. Esse fenômeno pode levar a alterar o perfil das famílias brasileiras”. [p.89]
– Seria o perfil das famílias constituídas por evangélicos diferentes daquelas formadas por não evangélicos? Que perfil seria este tão incomum, tão diferente das demais família brasileira? Será que seria um perfil qualitativamente melhor ou pior? São diferentes em que? Ou, o crescimento numérico, por si só, é um fenômeno qualitativo? O Brasil ficou melhor? Robinson Cavalcanti, bispo anglicano do Recife, quando reflete acerca do exercício da cidadania por parte dos cristãos no Brasil chega a afirmar que: “... o aumento do número dos cristãos não tem diminuído o número dos nossos problemas” (2000:60).

4- “Os evangélicos, mesmo entre os menos escolarizados, têm menor número de filhos que seus vizinhos de outras religiões”.[p.89]
– Dados do próprio IBGE diz que o Brasil está se tornando um país com uma população cada vez mais de idosos, como ocorre na Europa e que “ter menos filhos” é hoje uma característica de toda a população brasileira e não apenas dos que são evangélicos, portanto, não é isso ainda que diferencia este segmento religioso dos demais.

5- “Três quartos das mulheres evangélicas casadas usam contraceptivos”.[p.89]
–desde quando o uso de contraceptivo é uma conseqüência da opção religiosa de uma pessoa? Não seria o caso de pensarmos que isto é fruto de uma melhora das propagandas educacionais veiculada pela televisão, rádio ou jornais e da crescente escolarização por parte da população brasileira nestes últimos tempos? O uso de contraceptivos industrializados é algo recente em nossa sociedade e ainda há muitas pessoas que resistem ao seu uso, justamente por motivos religiosos, por acreditarem na doutrina que diz, que o ato sexual deve ser praticado, exclusivamente, para a procriação. Além do mais, a história registra o uso de contraceptivos naturais pelas mulheres que não queriam ou não podiam ter filhos, antes, durante e depois do advento da pílula anticoncepcional, independente da filiação religiosa que ela esteja. Há, mulheres evangélicas não casadas também usam contraceptivos. A reportagem ainda conserva a visão estilizada que os próprios evangélicos tem de se mesmo [a do purismo sexual].

6- “Quase 90% dos adeptos de igrejas evangélicas acreditam que a moral sexual do homem e da mulher deve ser igual, e 65% deles preferem casar-se com algum irmão de fé”.[p.89]
– Essa precisão métrica, percentual é bastante duvidosa. Ela parte do pressuposto de que há uma moral sexual que possa ser medida e que todos têm a mesma compreensão dela? Esquece-se que aquilo que chamam de moral sexual, não passa de uma invenção da própria Igreja como forma de estabelecer uma diferença com os que são de fora do grupo. A sociologia explica bem isso; segundo ela, é um elemento de coesão social.

7- “Ao contrário do que acontece com os católicos brasileiros, cuja maior parte nasce dentro da religião, mas na maioria dos casos não a segue completamente, os evangélicos levam a prática da fé a sério”. [p.89]
– Há esse entendimento de que quem é católico nasceu católico e que os evangélicos não. E o que dizer dos países de maioria protestante como os EUA? Seriam as pessoas protestantes porque nasceram protestantes? Não obstante, ser católico ou de qualquer outra religião é algo genético ou social? Tanto um como os outros são formatações de uma dada sociedade. E em todos os grupos religiosos há quem leve a sério e quem não leve a sério a prática de sua fé, porém o que poderia significar isso? O que seria levar a sério a prática de uma fé? Como medir isso também? Vai depender do entendimento que se der a isso.

8- “O evangélico é aquele que é convertido”.
– Por quem? Como? Há uma forma especifica disso acontecer? O que seria isto? Ser convertido é ser militante da causa, é ser envolvido com os cultos e as atividades comunitárias desenvolvidas em torno dos templos que freqüentam? Ora, se é assim, podemos encontrar engajados em todas as religiões e isto ainda não difere o evangélico de um não evangélico. A reportagem, aliás, associa conversão a adesão, quando diz que O evangélico é aquele que escolheu aderir a uma religião por conta própria divergindo assim da compreensão que os evangélicos tem desse assunto. Para eles, conversão é um fenômeno sobrenatural, onde o homem não tem nenhuma participação a não ser se render a ele.

9- “80% dos evangélicos dizem participar das cerimônias e das obras sociais com regularidade – uma porcentagem maior que no rebanho católico”.[p.89]
– O ato de dizer que faz mais é evidência verdadeira de que faz isso mesmo? Ser evangélico, portanto, é fazer mais ou agir mais que os católicos?

10- “As religiões cristãs não-católicas, como as evangélicas, têm sua origem no começo do século XVI, quando um monge alemão chamado Martinho Lutero se insurgiu contra Roma. No ano 1517, revoltado com a venda de indulgências pelo papa, Lutero escreveu suas famosas 95 teses, que pregou na porta da catedral de Wittenberg”.[p.90]
–Neste caso, ser evangélico significa ser apenas “um cristão não católico dentre muitos”; “uma variação de cristão não católico”. Mas, é bom aqui salientar que, historicamente falando, antes mesmo do advento da chamada Reforma Protestante existiam e existiram grupos cristãos não-católicos, considerados heréticos, parias e que experimentaram o anátema por parte da igreja hegemônica. Neste caso, a reportagem, ao localizar todas as religiões não-catolicas no século XVI, leva-nos a crer que antes deste período só havia uma religião cristã: o catolicismo romano e que o resto é pura e simplesmente uma dissidência. Logo, o evangélico é, a priori, um dissidente. Ora, até que ponto se pode incluir os evangélicos nesta categoria? Ao dialogar com uma certa história e estabelecer um ponto de partida, uma origem para os evangélicos, a reportagem cria uma tradição que não existe em si mesma, e inventa um certo passado para que se possa identificar essa comunidade religiosa. É a partir deste diálogo que se forja uma identidade para os evangélicos. Como este diálogo é dinâmico, outras definições do que venha a ser os evangélicos poderão vir à tona. O diálogo aqui, nesta reportagem, se trava com as vozes que vem de fora, dos grupos não evangélicos. São as vozes do outro, inventando um certo grupo social. O termo “evangélico”, antes de ser usado por inúmeras igrejas cristãs, é uma adjetivação vinda de fora, das outras religiões. Este mesmo processo ocorreu com o termo cristãos e protestantes que nasceram fora do cristianismo e do protestantismo. [Isto confirma o que Bakhtin disse:.. ]
11- “Com o tempo, do tronco protestante antipapal foram brotando dezenas de denominações. A mais importante dessas subdivisões, a do pentecostalismo, criada pelo pregador negro americano Willian Joseph Seymour, foi uma explosão de fé”. [p.90]

- Mais uma vez a reportagem identifica o evangélico com o protestante e este por sua vez, como um antipapal. O pentecostal aqui seria apenas uma variação. Ser evangélico, portanto, seria ser anticatólico. O anticatolicismo seria uma característica definidora. Seria tal coisa parte dos seus discursos ou este seria um discurso dos outros, dos que não são? Quem será o produtor dele nesta reportagem? Para quem ele discursa? Os públicos alvos não são os próprios “evangélicos”, mas que não são.

12- “Ao proliferarem em todas as camadas sociais, os evangélicos estão produzindo mudanças facilmente detectáveis. A mais visível dela acontece em público. Neste ano, o mais retumbante evento da Semana Santa, o Sermão da Montanha, aconteceu numa praça de nome católico, a Praça do Papa, em Belo Horizonte, mas foi liderado por evangélicos. Cerca de 100 000 protestantes de ramos diversos ali apresentaram ao Brasil um refrão que sinaliza os novos tempos:’Um, dois, três, quatro, cinco, mil, queremos um evangélico presidente do Brasil’. Circunstancialmente, foi o presbiteriano Antony Garotinho, de 42 anos, quem se apresentou como candidato a esses votos”. [p.92]

- Neste enunciado, o “evangélico” é aquele que provoca mudanças na sociedade porque ele também faz parte das suas diversas elites, desde a política a elite cultural e esportiva. Em todos os segmentos, ou quase todos, há evangélicos. Mas, não é necessariamente o número de adeptos que lhes dá visibilidade, mas a classe social de onde muito deles fazem parte. O evangélico

pode ser qualquer um da sociedade. [Mas qualquer um pode ser evangélico?] No mesmo enunciado, a reportagem diz que, mesmo sendo anticatólicos, os evangélicos usam espaços “católicos” e fazem coisas que eles fazem, inclusive: lançar candidato a um cargo político. Então, o que os distingue nesta hora? O discurso, a prática, ou ambos? Ou nenhum e nenhuma das duas coisas? Sendo o enunciado tendo como destinatário um público de maioria católica, é possível fazer esta última leitura, a de que “evangélico” e católicos, na prática, não são tão diferentes assim. Embora esta leitura contradiga afirmações anteriores.

13- “Em todas as variantes do protestantismo, é missão do fiel e de seu pastor espalhar a palavra do Senhor. Em resumo, ele deve converter seu semelhante. Na maioria dos casos, quanto pior o currículo ético desse semelhante, maior será o esforço para salva-lo”. [p.92]

- O evangélico é alguém com uma missão. Ele existe para realizar algo. Este algo é se reproduzir. Isto implica em provocar a adesão de outras pessoas para sua fé. Ele é um propagandista; um cruzado em missão. Dentro da lógica do capital, ele é aquele que sai no mundo atrás de quem possa comprar o seu produto e consumir o que ele consome. É o seu “destino manifesto” fazer prosélitos. Como uma boa ovelha, tem que se reproduzir para que possa aumentar o rebanho e muitas ovelhas sejam tosquiadas e muita lã seja produzida. Mas, a melhor coisa que pode acontecer é quando um lobo é amansado ou transformado em ovelha. A isto eles chamam de conversão, ou seja, processo de dosmeticação e transformação de lobos em ovelhas. Quanto mais lobo for melhor, para ser convertido. Rubem Alves resume muito bem o motivo dessa mutação em seu livro Dogmatismo e Tolerância (1982:109): “... à primeira vista, a moral desviante possa parecer o comportamento mais perigoso para a unidade da sociedade, a verdade é que o pensamento divergente é aquele que apresenta maior periculosidade abalando a ordem social em questão nos seus próprios fundamentos. O ladrão, que atenta concretamente contra a propriedade privada, é menos perigoso que aquele que, não sendo ladrão, contesta, ao nível intelectual, a legitimidade da propriedade privada. O primeiro deseja apenas resolver um problema prático particular. O segundo nega a validez da ordem social como um todo. [...] A prostituta, igualmente, é menos perigosa que o eunuco que afirma uma filosofia de amor livre”. Sendo assim, portanto, conversão é domesticação, “pacificação”, é estranhamento e diferenciação com o outro e o mundo dele. O evangélico é aquele que se aliena dos outros e da sociedade; uma espécie de autista religioso, um asceta.


14- “A simplicidade facilita a evangelização”. [p.92]

- O evangélico é uma espécie de católico simplificado, segundo a reportagem. Ele é alguém dês-burocratizado e é o seu próprio despachante junto a Deus. É alguém que, “aqui na terra” não precisa de mediações para “ser salvo” e realizar a sua missão, é uma espécie de “self-made man” religioso, isto é, “homens religiosos que se fizeram por si mesmos”. É alguém que não precisa marcar audiência para poder falar diretamente com Deus. Em outras palavras podemos sintetizar: os valores abraçados pelos evangélicos são caricaturas religiosas dos valores do homem moderno e uma simplificação do modo de ser católico.

15- “Numa troca simples, a igreja evangélica propõe que sua ovelha se afaste do mal e siga um código duro de conduta, oferecendo em troca apoio e reconhecimento por seu sucesso na empreitada”. [p.92-93]

- Ser evangélico, segundo indica a reportagem, é, contraditoriamente, alguém subserviente. Ao abraçar este código de conduta estará abrindo mão da sua liberdade de pensamento e de ação. Ele é alguém da igreja agora e não pode pensar e agir sem ela, sozinho. A sua linguagem é a linguagem dele. Ele tem que se submeter a uma “ordem do discurso” religioso compactuado por todos no grupo para que nele possa ser aceito.


16- “Esse entusiasmo gera dinheiro, na forma de dízimo, e esse dinheiro, ao se transferir para a mão de pastores que vêem a religião como um negócio, tem gerado tanto o crescimento de muitas denominações quanto maracutaias, denúncias e investigações”.[p.93]


17- “A Igreja renascer em cristo enfrenta mais de cinqüenta processos movido por ex-fiéis”.[p.93]


18- “Como em todos os grupos humanos, há pecadores também entre os evangélicos. Mas a grande maioria deles é constituída de pessoas não apenas honestas, mas honesta acima da média”.[p.93]



19- “essas igrejas oferecem espaço a quem quer rezar num templo sem ouvir condenações sumárias ao capitalismo, como ocorre em certas paróquias católicas”. [p.94]



20- “Somando tudo - de CDs a bares e instituições de ensino -, o mercado impulsionado pelos protestantes movimenta 3 bilhões de reais por ano e gera pelo menos 2 milhões de empregos”. [p.94]

21- “Na política, os evangélicos são um trator”. [p.95]




22- “Se o terreno para as conquistas é o Parlamento, nada mais natural para os evangélicos do que ir até lá pegar seu quinhão”.[p.95]

23- “Há também grande investimento em educação. A maioria dos evangélicos brasileiros gira em torno de seis livros por ano – o dobro da média nacional”. [p.95]

24- “Paradoxalmente, o que mais mudou no Brasil com o crescimento da legião evangélica foi a Igreja Católica”. [P.95]


BIBLIOGRAFIA:


ALVES, Rubem. PROTESTANTISMO E REPRESSÃO. 1ª Edição, 2ªImpressão, Ática, São Paulo, 1982.
____________. DOGMATISMO E TOLERÂNCIA. Edições Paulinas, São Paulo, 1982.

BAKHTIN, M. (1929). Marxismo e filosofia da linguagem. Hucitec, São Paulo, 1997.

CALDAS, Alberto Lins. ORALIDADE TEXTO E HISTORIA: PARA LER A HISTÓRIA ORAL. Edições Loyola, São Paulo, 1999a e b.

CAVALCANTI, Robinson. A IGREJA, O PAÍS E O MUNDO: DESAFIOS A UMA FÉ ENGAJADA. Ultimato, Viçosa, 2000.

DERRIDA, Jacques. A ESCRITURA E A DIFERENÇA. Editora Perspectiva, 3ª edição, São Paulo, 2002.

EDWARD, José. A FORÇA DO SENHOR. Revista Veja, ano 35- nº26, p.88 a 95, Editora Abril, 03 de julho de 2002.

MAFRA, Clara. OS EVANGÉLICOS. Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2001.

MARIANO, Ricardo. NEOPENTECOSTAIS. Edições Loyola, São Paulo, 1999.

MENDONÇA, Antônio Gouvêa. QUEM É EVANGÉLICO NO BRASIL? Debate, suplemento do Jornal Contexto Pastoral, nº8, maio/junho de 1992. Publicação do Centro Evangélico Brasileiro de Estudos Pastorais - Cebep. Campinas, São Paulo.

PEREIRA, José dos Reis. BREVE HISTÓRIA DOS BATISTAS. 3ª edição. Junta de Educação Religiosa e Publicações, Rio de Janeiro, 1987.


Os evangélicos são proselitista, eles disputam ardorosamente as ovelhas dos seus rivais, sejam estes da Igreja Católica, de religiões não cristãs e até das próprias Igrejas evangélicas.